segunda-feira, outubro 10, 2011

Ainda bem que não há dinheiro

"Quanto mais tempo passa desde a assinatura do acordo com a troika, e à medida em que vamos destapando a tralha que escondemos por baixo do tapete, mais apetece dizer: "Ainda bem que não temos dinheiro". Porque olhamos para certos sectores e percebemos que o nosso problema não é, definitivamente, a falta de dinheiro. É a falta de coragem para implementar as reformas que libertam a economia.

Durante décadas, sobretudo nas últimas duas, fomos escondendo os cancros que paralisavam o país, fazendo de conta que os problemas não existiam (há alguma justificação para o desemprego entre os jovens chegar aos 28% senão a atrofia do mercado de trabalho e a péssima qualidade da Educação que temos?). E quando um governo era confrontado com um problema, a solução era: dinheiro para cima dele (na Educação, Saúde, Transportes, etc.). Dinheiro que não tínhamos e que, por isso, tivemos de pedir emprestado. Dinheiro que, como se vê agora, não resolveu nada. E até tornou os problemas mais agudos.

Como chegámos ao ponto de não ter dinheiro para mandar cantar um cego, começámos a fazer (com a ajuda da troika) aquilo que tínhamos desaprendido durante o tempo em que vivemos à rica: repensar a forma de fazer as coisas, olhando para a relação custo-benefício. Os primeiros sinais de que esse repensar começa a incomodar muitos "lobbies", está à vista: cada medida tomada, ou anunciada, provoca imediatamente uma barragem de artilharia por parte de quem tem mais a perder.

A necessidade de fazer muita coisa em pouco tempo vai provocar injustiças? Vai. Mas os benefícios serão superiores aos prejuízos. E a referida pressa até pode ser uma vantagem: os "lobbies" não vão ter muito tempo para reagir
"

Camilo Lourenço

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