Dar um tiro na Bota
"Quando Jean-Claude Juncker disse, ontem, em Lisboa, que "o euro não está em crise", suspeitou-se de que andasse por cá o fantasma do ministro da propaganda de Saddam, que ridiculamente ainda apregoava vitória já os tanques tombavam o regime iraquiano. Mas o presidente do Eurogrupo explicou-se: o que há é "uma crise de dívida pública de alguns Estados europeus".
Juncker não tem razão, e provavelmente sabe-o. Uma crise de dívidas soberanas no euro é uma crise do euro. E a Europa caminha de vitória em vitória até à derrota final. A última cimeira europeia teve os resultados que se temiam, de aniquilar a procura de dívidas públicas. E o tiro no pé tornou-se num tiro na Bota: a Itália, que tem a maior dívida pública da Europa, entrou no cone de sucção. O Governo caiu, os juros ultrapassaram a barreira dos 7%.
Os líderes europeus passaram, primeiro, do pasmo para a acção. Agora arriscam-se a passar para o pânico. Notícias não desmentidas garantem que está em marcha um processo de "esterilização" da Zona Euro, que separa a União em duas moedas: o "euro 1" para países como a Alemanha; o "euro 2" para países como Portugal.
A solução não é nova. Nunca foi usada porque é má. A menos má parece ser irremediavelmente colocar o BCE a imprimir moeda, mesmo que "criando" inflação. Já partir a Zona Euro é muito mais do que fazer uma separação económica. É uma separação política e, eventualmente, social. Porque institucionaliza duas categorias de povos. Separar povos não é o mesmo que lidar com devedores e credores e na história da Europa tem precedentes tenebrosos.
Já não está em causa apenas uma crise de dívidas nem sequer uma crise do euro. Dividir a Europa pode ser apartar siameses à machadada. Nunca uma divisão criou uma União"
Pedro Santos Guerreiro
Juncker não tem razão, e provavelmente sabe-o. Uma crise de dívidas soberanas no euro é uma crise do euro. E a Europa caminha de vitória em vitória até à derrota final. A última cimeira europeia teve os resultados que se temiam, de aniquilar a procura de dívidas públicas. E o tiro no pé tornou-se num tiro na Bota: a Itália, que tem a maior dívida pública da Europa, entrou no cone de sucção. O Governo caiu, os juros ultrapassaram a barreira dos 7%.
Os líderes europeus passaram, primeiro, do pasmo para a acção. Agora arriscam-se a passar para o pânico. Notícias não desmentidas garantem que está em marcha um processo de "esterilização" da Zona Euro, que separa a União em duas moedas: o "euro 1" para países como a Alemanha; o "euro 2" para países como Portugal.
A solução não é nova. Nunca foi usada porque é má. A menos má parece ser irremediavelmente colocar o BCE a imprimir moeda, mesmo que "criando" inflação. Já partir a Zona Euro é muito mais do que fazer uma separação económica. É uma separação política e, eventualmente, social. Porque institucionaliza duas categorias de povos. Separar povos não é o mesmo que lidar com devedores e credores e na história da Europa tem precedentes tenebrosos.
Já não está em causa apenas uma crise de dívidas nem sequer uma crise do euro. Dividir a Europa pode ser apartar siameses à machadada. Nunca uma divisão criou uma União"
Pedro Santos Guerreiro
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