sábado, dezembro 10, 2011

A descoberta de Portugal

"O Presidente da República, acompanhado da típica corte, anda pelos EUA a tentar, cito, "corrigir a imagem um pouco distorcida que às vezes aqui se projecta do nosso país". Ai, a velha questão da "imagem". Não deve haver povo que passe tanto tampo ao espelho quanto o português, e nem assim conseguimos que os outros nos vejam como gostaríamos que nos vissem. Talvez o problema seja do espelho, talvez seja dos outros, não sei.

O que também não sei é o tipo de distorção que os americanos "projectam" de Portugal. Sempre que um indígena de lá me pergunta pelas origens, a reacção à resposta é quase sempre a mesma: "Vasco da Gama!" Ou: "Magalhães!" (eles dizem Magellan, mas não os corrijo: Gengis Cão incluído, a adaptação lexical de um substantivo é prova da respectiva importância). À primeira vista, parece uma "imagem" preferível às referências futebolísticas, fatais quando um diálogo idêntico acontece na Europa. Na Itália, na Inglaterra ou na Polónia, é raríssimo sairmos das alu- sões a Cristiano Ronaldo e a José Mourinho, símbolos que, embora possivelmente mais exactos, dão à pátria um prestígio inferior ao conferido por navegadores quinhentistas.

Esta, porém, é a minha perspectiva, necessariamente pequenina e parcial. Se o prof. Cavaco garante que a "imagem" de Portugal na América não é grande coisa, fica decidido que a "imagem" de Portugal na América não é grande coisa. E o que fez o representante máximo da nação para contrariar a tendência? Resumidamente, contou umas histórias. Entre reuniões oficiais, encontros informais e conferências, o prof. Cavaco jurou que Portugal merece ser olhado enquanto "oportunidade de investimento", que Portugal é "um bom porto de entrada para a Europa e para os mercados lusófonos", que Portugal é um "país empreendedor e de talento", que Portugal "ultrapassará os problemas económicos e financeiros" e, numa abordagem internacional, que o euro não acabará. Na próxima segunda-feira, irá a Silicon Valley mostrar que Portugal é um lugar de "inovação tecnológica" e "capacidade inovadora". Se o passeio correr bem, haverá de espantar os moços da Intel com uma demonstração do computador Magalhães (inexplicavelmente ainda sem direito à anglicização do nome).

No fim da digressão presidencial, e dando de barato que a mesma não foi ignorada por cerca de 99,74% dos locais, será bastante provável que aconteça um profundo retoque da tal "imagem" e os americanos descubram que, além de descobridores, os portugueses são uns grandessíssimos mentirosos. Mas continuarão sem ideia nenhuma de quem é José Mourinho. Aquilo é uma terra de boçais.
"

Alberto Gonçalves

Divulgue o seu blog!