São bancos mas parecem aspiradores
"Diz-se que as crises puxam pela imaginação. Perante as dificuldades, famílias e empresas fazem um esforço suplementar para encontrarem formas de lhes resistir e de as superar. Mas também há sectores em que não é preciso gastar muita energia para conseguir contornar obstáculos. Tudo é simples. Basta pegar nos preçários e alterar os valores. Para cima, claro.
Este é o caso da banca. Vítimas de erros próprios e alheios, confrontados com resultados negativos, sedentos de encontrar receitas que lhes permitam reequilibrar as contas, os bancos espreitam por qualquer oportunidade para espremerem os clientes. Sobretudo quando estes não têm alternativa que não seja a de pagar aquilo que lhes decidam cobrar.
Há poucos dias, o Banco de Portugal forneceu um retrato da situação. E as conclusões foram claras. Quase nenhum produto ou serviço prestado pelas instituições financeiras escapou a um agravamento de preços, com destaque para aqueles que estão relacionados com o crédito à habitação e os empréstimos destinados a financiar despesas de consumo. Nesta área, a tendência para sugar sem contemplações é particularmente elucidativa.
Só para abrir um processo de crédito, as comissões registaram, em média, uma subida de 80% entre Janeiro de 2011 e o mesmo mês deste ano. Noutros serviços, a gula não se manifestou de forma tão agressiva, mas nem por isso deixou de revelar variações simpáticas para quem as cobra.
Pela abertura de um empréstimo para comprar casa, os bancos cobram agora mais 18%, em média. Em troca da emissão de um simples cartão de débito, os bancos cobram agora mais 20%. E estas são, apenas, algumas comparações feitas pelo banco central entre 2011 e 2012. Como o agravamento destes custos começou a sentir-se antes, o impacto do desespero dos bancos nos bolsos dos clientes já terá atingido proporções maiores caso se alargue o período da análise.
O país está em crise grave e o FMI regressou. Mas talvez alguém se tenha esquecido de avisar os banqueiros que a inflação está longe dos níveis que atingiu nos anos 80, quando Portugal também teve que se sentar ao colo da ajuda externa para conseguir sobreviver.
É evidente que ninguém é obrigado a contratar um empréstimo e a suportar os custos que os bancos lhes associam. E também é verdade que o cartão de débito pode ser dispensado, caso o seu titular aceite o incómodo de viver sem um. Mas há circunstâncias em que as exigências burocráticas e a avidez de quem se dedica a encontrar novas fontes de proveitos para as instituições financeiras deixam os clientes de pés atados e mãos livres para abrirem a carteira e pagarem o que tiver de ser.
A situação que o Negócios revela hoje diz muito. Para poderem inscrever os filhos junto de instituições de solidariedade social e terem acesso a preços ajustados aos seus rendimentos, os pais têm que fazer prova de alguns encargos, como aqueles que decorrem dos créditos para a compra de casa. O extracto mensal que o banco lhes envia é suficiente? Não. É preciso pedir um precioso papelinho, em tudo idêntico, mas sem o qual deixar as crianças ao cuidado daquelas entidades é uma decisão que corre o risco de ficar mais cara.
Nos últimos dois anos, o preço pela emissão do inevitável documento subiu, em média, 66%. No BPI, confirmar a informação e imprimi-la custa a módica quantia de 52 euros. Provavelmente, é o próprio presidente do banco que executa a tarefa e, como se sabe, os banqueiros cobram bem."
João Silva
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