segunda-feira, janeiro 21, 2013

O Reino Unido tem de seguir o seu caminho

"Para um europeu entusiasta, o próximo desafio reside na provável saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Por europeu entusiasta entenda-se alguém que considera a UE, não obstante as suas absurdidades, como o projecto político mais nobre do pós-guerra, que deve - e vai - evoluir no sentido de uma federação, provavelmente ao estilo suíço, ou seja, pouco consistente, liderada por um presidente eleito directa ou indirectamente e por um Parlamento Europeu enérgico e determinado. Alguém que gostaria que o Reino Unido fizesse parte deste projecto, mas que tem consciência de que isso nunca acontecerá.

Para quê uma Europa federal? Para criar um centro político poderoso assente no direito supranacional, supervisionado por um tribunal de justiça independente, que funcionaria como o último foco de lealdade para as nações que viveram sob a ditadura e cuja memória dos seus horrores não pode ser apagada. A crise do euro é algo de somenos importância em todo o processo, apesar do erro de nele se terem incluído as nações do sul desde o início. Mesmo que venham a sair da moeda única, não é provável que se mantenham à margem de uma eventual união bancária, para não falar de outros movimentos federalistas.

O processo está longe de terminado. A UE prosseguirá com a sua principal missão: inspirar e conquistar a lealdade de nações democráticas, venham ou não a tornar-se membros de pleno direito. Nenhum primeiro-ministro britânico do pós-guerra aceitou os argumentos em prol do federalismo. Por esta razão, é irresponsável pedir a um país que não mostra qualquer interesse nesta evolução que renove os votos de um casamento que não vai honrar. Se pusermos de lado a incompatibilidade entre a visão do Reino Unido e a da maior parte dos estados continentais, regressamos ao velho e "pragmático" argumento para a permanência do Reino Unido na UE: acesso ao mercado único para as empresas exportadoras britânicas e influência decisiva no mundo.

Importa dizer que o Reino Unido terá sempre acesso ao mercado da UE mesmo que saia, tal como acontece com a Suíça: metade das suas exportações têm como destino a União. O problema do Reino Unido não é o acesso ao mercado, mas sim a competitividade. Embora tenha igual acesso ao mercado chinês e norte-americano que a Alemanha, é menos bem-sucedido em ambos. No que respeita à influência, estará o Reino Unido condenado à insignificância se sair da UE? Nas negociações de comércio global terá, seguramente, mais dificuldades, apesar de o bloco europeu ter fortes razões para agregar o Reino Unido em negociações de livre comércio com os EUA, por exemplo.

Exceptuando a vertente comercial, não vejo outros problemas globais determinantes sobre os quais a UE tenha exercido influência decisiva, do conflito israelo-árabe e da Bósnia aos conflitos regionais da Rússia. No que concerne às sanções e outros instrumentos de política comercial, o Reino Unido pode subscrever as medidas adoptadas pela UE, seja ou não parte integrante do bloco. Acresce que a maior parte das intervenções britânicas no estrangeiro têm sido feitas em coordenação com os EUA, as mais recentes das quais no Afeganistão, Iraque e Líbia. Ninguém imagina os EUA, por mais recomendações que faça ao Reino Unido para manter-se na UE, dizer ao seu principal aliado militar europeu: "Não poderemos aceitar a vossa ajuda no Iraque ou na Líbia se saírem da UE".

A queda do Muro de Berlim, o ressurgimento da Alemanha e a crescente fragilidade da França mudaram as regras do jogo. Caminhamos para uma Europa federal, quer o euro acabe ou não por tornar-se num enclave setentrional em torno da Alemanha. Por mais paradoxal que possa parecer, o fim da ameaça comunista constituiu um estímulo mais poderoso à integração da Europa do que a agressão soviética. Doravante, as cartas jogam-se em prol do federalismo. Razão pela qual não é sensato os EUA insistirem junto do Reino Unido para manter-se na UE.

O Reino Unido deve referendar a sua permanência na União e a única opção honesta é ficar ou sair. Como o Reino Unido nunca se sentirá confortável num projecto federal, o melhor que pode fazer é sair e assumir um papel que se adeque à sua personalidade isolada, imaginativa e tacticamente hábil."

Simon May

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