quinta-feira, fevereiro 07, 2013

As bolhas...

A bolha política
Depois do longo primado da turbulência financeira, 2013 parece ter deslocado o epicentro da crise europeia para a política clássica. Em Espanha, não foi só Rajoy a perder a confiança dos cidadãos, mas o próprio sistema partidário. O PSOE pede eleições, mas toda a gente percebe que a cultura da corrupção, dos pequenos favores e dos grandes subornos, é um assunto muito mais sério e profundo, que não deixa nenhum partido de fora. Pensar que no final deste mês poderemos ver o circo Berlusconi voltar a Roma com legitimidade eleitoral não é menos assustador. Em Portugal, também temos o nosso quinhão de escândalos e conjuras. Mas aqui, na esfera política, a culpa é de todos nós, europeus. Consentimos em altas esferas de decisão, com a nossa passividade cívica, gente técnica e moralmente incapaz. Não escrutinámos as suas competências nem avaliámos os seus desempenhos com a diligência e o rigor devidos. Tolerámos a bolha de uma política intoxicada, enquanto os níveis de conforto eram aceitáveis. Agora, que ela rebenta por todo lado, é inútil ressuscitar sebastianismos. Reconstruir um sistema constitucional e político, que mereça e produza confiança, é uma tarefa da qual ninguém se pode demitir. Se as nações não conseguirem escolher para as representarem cidadãos competentes para perceber e servir o interesse público, sem a sombra de agendas ocultas, jamais poderemos esperar um consenso político europeu. Só quem está livre de pressões venais pode concentrar-se na construção da nova cultura política e institucional que nos permitirá salvar a Europa. E com isso proteger o direito à esperança de mais de 500 milhões de vidas.
Viriato Seromenho-Marques, in DN

Divulgue o seu blog!