As bolhas...
A bolha política
Depois do longo primado da turbulência financeira, 2013 parece ter deslocado
o epicentro da crise europeia para a política clássica. Em Espanha, não foi só
Rajoy a perder a confiança dos cidadãos, mas o próprio sistema partidário. O
PSOE pede eleições, mas toda a gente percebe que a cultura da corrupção, dos
pequenos favores e dos grandes subornos, é um assunto muito mais sério e
profundo, que não deixa nenhum partido de fora. Pensar que no final deste mês
poderemos ver o circo Berlusconi voltar a Roma com legitimidade eleitoral não é
menos assustador. Em Portugal, também temos o nosso quinhão de escândalos e
conjuras. Mas aqui, na esfera política, a culpa é de todos nós, europeus.
Consentimos em altas esferas de decisão, com a nossa passividade cívica, gente
técnica e moralmente incapaz. Não escrutinámos as suas competências nem
avaliámos os seus desempenhos com a diligência e o rigor devidos. Tolerámos a
bolha de uma política intoxicada, enquanto os níveis de conforto eram
aceitáveis. Agora, que ela rebenta por todo lado, é inútil ressuscitar
sebastianismos. Reconstruir um sistema constitucional e político, que mereça e
produza confiança, é uma tarefa da qual ninguém se pode demitir. Se as nações
não conseguirem escolher para as representarem cidadãos competentes para
perceber e servir o interesse público, sem a sombra de agendas ocultas, jamais
poderemos esperar um consenso político europeu. Só quem está livre de pressões
venais pode concentrar-se na construção da nova cultura política e institucional
que nos permitirá salvar a Europa. E com isso proteger o direito à esperança de
mais de 500 milhões de vidas.
Viriato Seromenho-Marques, in DN
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