Mais um golpe, ou simples pronunciamento?
Na Guiné, mais uma vez assiste-se a uma reviravolta política em que tudo leva a pensar que os revoltosos querem repor a ordem existente durante o triste período de governo do PRS de Kumba Yalá.
Se em 98 Portugal conseguiu acabar com a crescente influência francesa na zona, apoiando discretamente a revolta chefiada por Mané e por Zamora Induta, e que culminou mais tarde pela expulsão e posterior exílio de Nino, acabando o PAIGC por perder o poder político, depois, com os resultados eleitorais em que o PRS de Kumba Yalá assumiu o poder, Portugal começou a perder novamente o pé na Guiné-Bissau.
Depois de Kumba ter sido elegantemente deposto, perante o descalabro total das estruturas do Estado e da sua pobre e frágil economia, para além do descrédito que o seu regime mereceu da comunidade internacional, demonstrada na Conferência de Doadores, e de se proceder ao regresso dos velhos "capitães" mais ou menos ligados às estruturas históricas do PAIGC e de outras organizações políticas, assiste-se a uma nova reviravolta.
Kumba parece ter agora condições para regressar, apesar dos militares teimarem em dar a ideia de que não se trata de um golpe, de não quererem depor o Governo ou o Presidente, e de que tudo não terá passado de um movimento meramente corporativo iniciado por uma questão de falta de pagamentos aos militares que haviam participado na força de paz na Libéria (um destacamento especializado neste tipo de missões, e que curiosamente foi formado, treinado e armado parcialmente por Portugal).
Mais uma vez a instabilidade pode acabar rápidamente ou eternizar-se por um longo período, o que em África é sempre perigoso.
Mais uma vez, a pergunta:
De que meios Portugal dispõe para rápidamente poder proceder a uma evacução de nacionais ou de outros refugiados que possam aparecer, ocidentais e africanos?
Recorre-se novamente ao Sagres, e só depois se envia uma fragata, duas corvetas e 2 C-130, com uma base recuada em Cabo Verde?
A célebre e sempre prometida capacidade de projecção de forças vai sendo adiada e atrasada sine die, não se dando cumprimento ao célebre CEDN.
Portugal alegremente pede a ajuda e a cooperação da comunidade internacional, pela voz do Presidente Sampaio, no que nos leva a crer que temos um regime que em matéria de política externa fala a duas vozes, limitando-se o experiente António Monteiro, Ministro dos Negócios Estrageiros a declarar o que qualquer Secretário de Estado ou mesmo um alto funcionário do ministério diria:
Que a nossa embaixada em Bissau deve preparar-se para dar apoio a eventuais refugiados.
Tudo confuso.
E capacidades para intervir?
Nada, ou quase nada.
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