A Demissão
Collin Powell demitiu-se.
O único dos políticos com projecção internacional, por força do importante cargo que ocupava, ao nível da diplomacia do país mais poderoso militar e económicamente do mundo apresentou a sua demissão, mostrando-se indisponível para um segundo mandato na Administração de G.W.Bush agora reeleita.
As razões oficiais foram ontem por ele apresentadas:
Que nunca tinha pensado num segundo mandato.
Porém ele era cada vez mais uma voz isolada no seio da Administração americana, tendo a sua política e as suas ideias sido submergidas pelos neo-conservadores libertários e militaristas liderados por Rumsfeld, e pelos ideólogos desta Administração.
Kagan, Perle, Condoleeza ou Dick Cheeney foram quem influenciaram a Administração Bush, e se preparam agora para, aparentemente endurecer essas posições.
Se Bush já deu mostras de tentar uma certa reaproximação à Europa, e se, não obstante essa vontade propagandeada, até Blair, o fiel aliado americano já percebeu que a sua influência na Casa Branca parece vir a diminuir, não se prevê nada de bom para os próximos quatro anos da próxima Administração.
Powell ou foi enganado, ou enganou, e prestou-se ao triste espectáculo dado em sede do Conselho de Segurança das Nações Unidas a 5 de Fevereiro de 2003, em que através de suportes áudio-visuais de última geração tentou convencer o mundo de que o regime de Saddam Hussein tinha armas de destruição maciça, e até mostrou inusitados esquemas de camiões e carruagens ferroviárias, que eram fábricas e depósitos dessas armas.
Ou foi enganado ou enganou.
Um político perante essas atitudes deve assumir as suas responsabilidades, e até se pode admitir que Powell deveria ter pedido a demissão do cargo logo que se tornou evidente que essas provas eram falsas.
Mas se mais ninguém na Administração não se demitiu, para quê ele demitir-se?
Provavelmente a sua decisão de cumprir apenas um mandato foi tomada nessa altura.
Mas agora os outros, os que não foram militares como ele, e que acreditam que a Guerra é uma das primeiras opções e nunca a última, provavelmente porque não tendo sido militares desconhecem de perto a tragédia da guerra, manter-se-ão no poder.
E se no que respeita ao Médio Oriente se pode ter agora aberto uma “janela de oportunidade” após a morte de Arafat, não creio que sem Powell ou outra “pomba” se caminhe para uma resolução justa para o problema, que minimize, e de certo modo compense os estragos causados pela tragédia iraquiana.
Como disse alguém recentemente, a resolução deste problema israelo-palestiniano não está só na mão de israelitas ou de palestinianos.
A resolução está sobretudo no papel que os EUA venham a desempenhar para a resolução do conflito, que deverá basear-se numa solução justa para os dois países.
Porque os EUA são condicionantes e determinantes para o futuro do Estado de Israel.
E porque é necessário acelerar esse processo antes que a deriva caótica em que as autoridades palestinianos podem cair numa luta fratricida, possam enfraquecer de vez a causa que para o povo da Palestina é justa e necessária.
A Europa e os EUA terão nesse processo um papel fundamental.
Mesmo sem Powell, mas de preferência com um político experiente, justo, e que consiga ganhar a credibilidade perdida pelos EUA no Médio Oriente.
Uma aliança efectiva entre os EUA e a Europa poderão ser a chave para essa reabilitação do processo de paz.
Mas tudo depende de Bush, o Presidente reeleito e da força que ele possa ter no seio da sua própria Administração.
Se George W. Bush tem essa força desconhecemos.
Mas esperemos que a tenha.
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