domingo, novembro 14, 2004

Face à Intolerância.

"1. Quando as ondas da questão Buttiglione se fazem ainda sentir e as eleições americanas validaram a estratégia de apelo à chamada "direita evangélica", o assassinato do realizador holandês Theo van Gogh por um fundamentalista islâmico é um dos mais graves atentados cometidos na Europa e está a suscitar reacções que ameaçam questionar a convivência democrática. Por diversas vias, e com diferentes níveis de gravidade, ressurgem no espaço público das sociedades democráticas fantasmas de "questões religiosas". Ao choque também pessoal que para mim constituiu o assassinato de Theo van Gogh sucedeu uma incredulidade preocupada com os níveis do debate verificados na blogosfera ou na imprensa de ontem.

2. Durante meses as eleições americanas foram sendo por cá analisadas em comentários e desenhos geo-estratégicos. Junto de algumas pessoas que estimo, e que foram também comentando, tive a oportunidade de chamar a atenção que me parecia estarem a desconsiderar a questão interna das nefastas "guerras culturais", referindo-lhes nomeadamente "The Right Nation" de John Micklewaith e Adrian Woolbridge - a esse livro, agora já muito citado, podendo acrescentar "What's the Matter with Kansas? : How Conservatives won the heart of Heart of America" de Thomas Frank e, na perspectiva conservadora, "Who are we?: America's Great Debate" de Samuel Huntington, o autor do "Choque de Civilizações". Na expressão da vitória de Bush pesou também a mobilização dos cristãos evangélicos, suscitada pela questão dos "casamentos gays". Sobre essa questão cabe-me reafirmar que, caso tivesse passado a proposta de banimento a nível federal, teria sido a primeira emenda restritiva da Constituição americana. Acrescento dois pontos: 1) um dos seus opositores foi o senador John McCain que a considerou basicamente "anti-republicana", porque visando uma matéria que na tradição do partido cabe aos Estados definir, e não a nível federal; 2) a comparação do voto entre o Ohio e a Pennsylvania, Estados social e demograficamente semelhantes, elucida que a decisiva vitória de Bush no primeiro se articula com o facto daquele ter sido um dos 11 Estados em que a mobilização conservadora consagrou em referendo a proibição dos "casamentos gay". Como se pode ainda pensar que esta é uma questão que diz apenas respeito a "outros", homossexuais e americanos, quando se torna patente que uma questão de direitos foi instrumentalizada para fins políticos de consequências mundiais, apelando a sentimentos religiosos fundamentalistas?

3. O assassinato de van Gogh é um acto de uma gravidade política equiparável ao 11 de Março madrileno. Com o homem, foi atingido o mais fulcral dos princípios democráticos fundadores, a liberdade de expressão. Não por acaso o alvo foi um autor, um cineasta. Não houve decreto religioso mas seria perigosamente ingénuo subestimar a mão assassina do fundamentalismo islâmico. Em nome da convivência democrática, é imperioso identificar politica e judicialmente os que fazem esse uso assassino da religião, até para salvaguardar que o opróbrio não recaia em toda uma comunidade. Conhecia Theo van Gogh o suficiente para saber que ele se atribuíra o estatuto de "provocador" Mesmo que pudesse discutir esse método "provocatório", ele corresponde a uma das funções tradicionais do "intelectual". Perante isto há quem ache que a coisa seria de "outros".

Daniel Oliveira, dirigente do Bloco de Esquerda, entendeu sentenciar no Barnabé, um dos mais visitados "blogs", que assassinado e assassino eram ambos "fanáticos" e que Van Gogh seria mesmo "anti-semita". Mas a que título?! É outra vez a cegueira perante a negatividade do terrorismo e do fundamentalismo islâmico. Como se enfrentá-lo fosse uma causa da "direita" a que a "esquerda" de Oliveira teria de ser reactiva! Onde nos levaria esta espiral? O raciocínio é inaceitável em termos de princípio, colocando no mesmo plano o assassinado e o assassino, a livre expressão e a intolerância, e contribui para a "monopolização" da resposta política por ideologias securitárias e reactivas ao "multiculturalismo", termo de que se faz uso e abuso, que à lógica identitária das diferentes comunidades atomizadas contrapõe outra, de um "Nós" exclusivo.

Eu lido com práticas e objectos culturais. Não desconheço como da expressão institucional de certas práticas se pode deduzir também um programa, usualmente referido como "politicamente correcto". Esse é um critério que não me interessa. Importa-me sim a manifestação da diferença, de cada objecto estético singular ou de uma cultura, importam-me fundamentalmente o cosmopolitismo e a conflitualidade democrática, a tolerância mas também a determinação em combater os fanatismos inimigos das liberdades, dos direitos e das diferenças. As sociedades democráticas constituíram-se no respeito do indivíduo e as lógicas comunitárias constituem um imenso desafio; damo-nos conta também do ressurgimento de fanatismos religiosos. Seria trágico, em nome da defesa da liberdade, sacrificarmos a ética da tolerância, a abertura cosmopolita e a convivência cultural. E dizendo isto, continuo a reconhecer-me como "europeu" e "ocidental" - mas num mundo não restringido à cultura em que me formei. "

AUGUSTO M. SEABRA

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O problema tem origem na política de imigração seguida durante decadas por muitos governos ocidentais. Hoje em dia estamos a pagar e de que maneira, o preço dessa política irresponsável e verdadeiramente lunática.

domingo, novembro 14, 2004  
Anonymous Anónimo said...

E de facto na minha visao pessoal uma religiao maldita.As mulheres e criancas sao forcadas e condicionadas aquela loucura desde a infancia,os seus paises vivem ne idade media caso do afeganistao e o irao aonde enforcam menores em praca publica.As mulheres sao autenticas escravas e nestes paises reina o caos da violencia e corrupcao. Viva os Holandeses

domingo, novembro 14, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Como se vê , os islâmicos são uns santinhos , inofensivos.Instalam-se nos paises da U.E. onde reina o deixa andar e entrar e deois são como que os donos disto tudo.Na terra deles não deixam ir para lá ninguém , não podem ir outros credos religiosos e quem os espalhar é preso e condenado à morte.Como querem eles ter direitos noutros paises , se não os dão aos outros?Acho estamos a ser ingén

Carlos

domingo, novembro 14, 2004  
Anonymous Anónimo said...

O problema aqui na Holanda, é culpa do gov. quando precisou de mão de obra foi busca-los, não incentivou a integração, pensando que eles iriao regressar aos seus paises. Nem todos os"moslims"sao extremistas, gracas a deus o povo holandeses nao pensa como muito dos leitores acima.Eu vivo em A'dam está certo que a situaçÃo está tensa, tanto para nós, como para muitos marroquinos que aqui vivem.

domingo, novembro 14, 2004  
Anonymous Anónimo said...

vivo na holanda nunca tive problema com muslims contudo discordo de algumas das suas leis se estão no ocidente, não será o Ocidente a adaptar-se ás suas doutrinas mas sim os muslims adaptarem-se ao ocidente desta forma e com respeito podia-se viver em harmonia. Quem não se adapta que regresse e viva de acordo com a doutrina do seu país de origem.
Miranda

domingo, novembro 14, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Sempre disse que os europeus do Ocidente continuam estúpidos e ignorantes. Não deram ouvidos ao Cristianismo, optaram pelo Islamismo e agora conhecem a verdadeira face do Islão: morte e desprezo pela vida humana.
Lois

domingo, novembro 14, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Não dou mais de 30 ou 40 anos para a Europa ser constituída por nações muçulmanas, quiçá fundamentalistas. Os muçulmanos já estão em muito elevada percentagem em muitos países europeus. Procriam como coelhos. Todos os dias entram na Europa milhares deles. Oxalá me engane...
JDias

domingo, novembro 14, 2004  
Anonymous Anónimo said...

O cineasta era neto de Theo van Gogh, irmão do pintor Vicente van Gogh. Theo era um artista na palavra. Uma guerra verbal, esse era objectivo dele em qualquer debate ou artigo que escrevia. Os tiros, foram a maneira mais covarde de calarem as criticas dele. Mas infelizmente a maneira mais eficaz de acordarem o regime politico na Holanda.
Laura

domingo, novembro 14, 2004  

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