A ERA DAS DEMISSÕES
Primeiro foi Marcelo Rebelo de Sousa
Uma voz tão incómoda para o Governo de Guterres, como para o Governo de Durão.
No entanto foi necessário tornar-se incómoda para o Governo de Santana para que medidas fossem tomadas.
Como diria Salazar, “em política o que parece é”.
E se formalmente é óbvio que todos nós duvidemos ou acreditemos que o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Gomes da Silva, tenha ligado para o Dr. Paes do Amaral a pedir-lhe para despedir o Professor, também, se tornou óbvio para todos que as declarações públicas do Ministro tornou a situação de Marcelo na TVI, apostada como está em expandir a sua presença no Cabo, por representar uma forma de pressão.
Mas a TVI, e a Média Capital são do domínio privado, e se é verdade que existe uma Lei da Televisão que regulamenta a sua actividade, também é certo que se trata de empresas do domínio privado, independentes, pelo menos formalmente do poder político.
Agora as demissões de toda a Direcção de Informação da RTP já me parecem mais estranhas e graves.
Porque a RTP, a RDP e a LUSA pertencem ao domínio do Estado, e que são tutelados pelo Governo.
Mas ao nível de conteúdos, a RTP, a SIC ou a TVI têm o mesmo estatuto editorial de liberdade e independência, e independentemente da tutela, a independência da informação nessas estações devem ser sempre coisas a preservar e a cultivar.
Daí que nos pareça estranho que após os governos de Cavaco, Guterres, Barroso, seja necessário vir Santana Lopes e “sus muchachos” a ditar as regras editoriais e de conteúdos das estações do Estado, mas também das públicas.
E mais estranho ainda que se assista tudo isto como se fosse tudo perfeitamente normal.
A RTP foi sujeita a um processo de saneamento financeiro, a reformulação de conteúdos e de filosofia de programação, a mudança de instalações e a um maior esforço de sinergias com o contributo da RDP e LUSA para que se pudesse alcançar redução de custos operacionais.
Morais Sarmento foi o artífice dessa mudança, que no meu entendimento foi o mais correcto, para retirar à RTP a imagem de TV do Estado que pretendia concorrer com as privadas ao nível de conteúdos.
Mas agora deitou tudo a perder.
O Governo passará para a história como tento sido o governo constitucional mais curto da história recente da Portugal, e que como marca, para além de uma desastrada gestão de dossier como as SCUT’s ou a Refinaria de Leça, como o Governo interventor nos conteúdos informativos do universo editorial, não só do Estado, o que já seria grave, mas sobretudo, no sector privado.
A desculpa:
Foi o Governo de Guterres, e Sócrates, como ministro da tutela de então que criaram as condições para que a PT pudesse, qual polvo de suportes e conteúdos dominar parte significativa do panorama áudio-visual português.
Mas se é verdade que assim foi, não deixa de ser um facto que durante o Governo de Guterres nunca houve interferências sobre as linhas editoriais dos canais públicos ou privados.
E que mais grave ainda, foi o actual Governo, e o seu “Ministro da Propaganda”, qual António Ferro dos tempos modernos, quem utilizou o que agora hipocritamente acusa os outros de terem criado.
Se “em política, o que parece, é”, agora não temos dúvidas de que “tudo isto foi o que pareceu”.
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