Mais atenção às palavras.
"O leitor Anildo Costa também esteve atento e enviou uma mensagem que alerta para o uso da expressão "imigrantes de segunda geração": "(...) Em relação aos acontecimentos recentes em França, a maioria dos jornalistas portugueses utiliza a designação 'imigrantes de primeira ou segunda geração'. Ora, uma visita ao dicionário ensina-nos que só é imigrante quem vai a um país estrangeiro para aí viver. Neste caso, os que cá nasceram (ou os que nasceram em França) não são imigrantes. E acrescentar segunda geração não muda nada. Do ponto de vista linguístico a designação adoptada está errada. Acresce o facto de que, no caso da França, os residentes dos bairros são na maioria franceses de nacionalidade, visto que em França vigora o direito do solo, o que não é o caso em Portugal. O tratamento dado ao caso em Portugal, pelos media, é diferente da percepção que se tem em França. Numa mesma reportagem na TV, enquanto o jornalista português se referia a bairros habitados por imigrantes, o primeiro-ministro falava de francesas e franceses a viver em condições degradantes.
A designação não é neutra. Ao utilizar a designação imigrante (mesmo que de primeira ou segunda geração), o jornalista identifica de maneira clara o 'outro' e induz no leitor (ou espectador) uma ideia errada para não dizer tendenciosa e discriminatória. (...) Penso que os jornalistas deveriam ser neutros e rigorosos na transmissão da informação e, com isso, seria possível ajudar a mudar a atitude da sociedade portuguesa em relação à tolerância."
O jornalista João Miguel Tavares esteve em França recentemente a cobrir os acontecimentos para o Diário de Notícias. Pedi-lhe, por isso, uma reacção. Sublinhe-se que o leitor não questionava o trabalho do jornalista, antes questionava o que, segundo ele, seria uma prática da "maioria dos jornalistas". Este prontamente me fez chegar um texto, em que, entre outras coisas, escreveu "Do ponto de vista formal, o leitor tem toda a razão. Mas deixe-me citar-lhe duas frases da primeira reportagem que enviei de França (...) 'Embora nascido em França, Mohamed garante que 'só é francês no bilhete de identidade'. No coração, sou marroquino.' No mesmo texto, um pouco mais à frente: 'Os nossos papéis são franceses, mas a cara não é. Há emprego para quem se chama Richard, mas para nós não.'"
Penso que estes dois exemplos são suficientemente esclarecedores. É verdade que numa perspectiva puramente formal a expressão "imigrante de segunda geração" é, em si mesma, uma contradição. "Filho de imigrantes" ou "francês de ascendência africana" seriam alternativas possíveis, mas há duas questões que têm de ser levadas em conta. Uma, mais prosaica, tem a ver com a qualidade dos textos e com a necessidade encontrar sinónimos - por vezes menos rigorosos - para evitar a eterna repetição das mesmas expressões. A outra, mais substancial, tem a ver com a necessidade de tornar claro para o leitor aquilo que está em causa. "
Mais aqui.
A designação não é neutra. Ao utilizar a designação imigrante (mesmo que de primeira ou segunda geração), o jornalista identifica de maneira clara o 'outro' e induz no leitor (ou espectador) uma ideia errada para não dizer tendenciosa e discriminatória. (...) Penso que os jornalistas deveriam ser neutros e rigorosos na transmissão da informação e, com isso, seria possível ajudar a mudar a atitude da sociedade portuguesa em relação à tolerância."
O jornalista João Miguel Tavares esteve em França recentemente a cobrir os acontecimentos para o Diário de Notícias. Pedi-lhe, por isso, uma reacção. Sublinhe-se que o leitor não questionava o trabalho do jornalista, antes questionava o que, segundo ele, seria uma prática da "maioria dos jornalistas". Este prontamente me fez chegar um texto, em que, entre outras coisas, escreveu "Do ponto de vista formal, o leitor tem toda a razão. Mas deixe-me citar-lhe duas frases da primeira reportagem que enviei de França (...) 'Embora nascido em França, Mohamed garante que 'só é francês no bilhete de identidade'. No coração, sou marroquino.' No mesmo texto, um pouco mais à frente: 'Os nossos papéis são franceses, mas a cara não é. Há emprego para quem se chama Richard, mas para nós não.'"
Penso que estes dois exemplos são suficientemente esclarecedores. É verdade que numa perspectiva puramente formal a expressão "imigrante de segunda geração" é, em si mesma, uma contradição. "Filho de imigrantes" ou "francês de ascendência africana" seriam alternativas possíveis, mas há duas questões que têm de ser levadas em conta. Uma, mais prosaica, tem a ver com a qualidade dos textos e com a necessidade encontrar sinónimos - por vezes menos rigorosos - para evitar a eterna repetição das mesmas expressões. A outra, mais substancial, tem a ver com a necessidade de tornar claro para o leitor aquilo que está em causa. "
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