O sonho e a realidade.
"Não existe o “Sonho Português” mas devia existir. Como não existe, estamos longe de atingir o objectivo último da nossa Sociedade: a felicidade dos Portugueses. A generalidade dos Portugueses tem dificuldade em acreditar que o seu futuro ou o da sua família vai melhorar. Não só as perspectivas de futuro são pouco risonhas, como se considera pouco capaz de as alterar. E compreende-se que os Portugueses assim pensem.Desde logo temos uma Sociedade que não prepara bem os seus cidadãos, em particular os mais desfavorecidos, que perpetua uma elevada taxa de abandono escolar e mantém um ensino caduco e, dum modo geral, de baixa qualidade.Depois temos uma Sociedade rígida e com um Estado ineficiente e asfixiante, em que os recursos disponíveis têm fraca mobilidade e são mal afectados, com mercados pouco abertos e concorrenciais, onde prevalecem proteccionismos e favorecimentos, e com um enquadramento que não estimula nem facilita a iniciativa e o investimento reprodutivo.
Finalmente temos uma cultura e atitude prevalecentes que não promovem a auto-responsabilização do cidadão, nem o incentivam para os comportamentos e posicionamentos correctos e necessários. Assim, quem nasce pobre ou desfavorecido muito provavelmente assim ficará.Para que o “Sonho Português” prevaleça toda esta situação tem que ser alterada. Cada Português tem que passar a dispor de condições de partida e de enquadramento que lhe permitam alimentar esse sonho para si e para os seus.É esse sonho que vai levar cada Português a tomar iniciativas e a não descurar a possibilidade de vir a ser empresário e de ter o seu próprio negócio.É esse sonho que impulsionará cada Português a dar mais atenção e a apostar mais na sua própria formação e, em particular, na formação e educação dos seus filhos.É esse sonho que vai levar cada Português a tomar mais o futuro nas suas próprias mãos e a compreender a inutilidade da busca do paternalismo do Estado ou da Empresa em que trabalha.
É esse sonho que aumentará a autoconfiança e optimismo de cada Português, sem prejudicar a sua predisposição para ser mais solidário e associativo.Não é um sonho digno de ser classificado como Português a concentração das expectativas em qualquer jogo de sorte, seja o euromilhões ou outro.Até porque aquilo de que se trata vai para além da melhoria das condições materiais, radicando, na sua essência, numa vontade de lutar por uma melhor qualidade de vida, assim como num consequente sentimento de realização e salutar orgulho próprio. O “Sonho Português” não tem que ser a cópia de qualquer outro sonho. Deve decorrer naturalmente da nossa história e ser consistente com os valores e visão que tenhamos para a nossa Sociedade.Haverá quem não queira que exista o “Sonho Português”.Uns porque têm dificuldade em encontrar o equilíbrio certo entre igualdade e liberdade, não vendo o indivíduo, a parte, para além do todo.Outros porque garantem melhor os seus apoios, e votos, quanto maior for o desespero e falta de esperança dos seus concidadãos.Estão enganados, porque de facto o sonho comanda a vida.
António Carrapatoso, Gestor
O fenómeno Euromilhões não é só uma loucura passageira dos portugueses. É o retrato do país, da nossa situação económica e do nosso atraso. O recorde de apostas nacional dos nove países europeus em que existe este jogo, reflecte o desespero dos portugueses. Num país cuja economia obriga quem nasce pobre a continuar pobre, raras são as hipóteses de ascensão social. E destas, a grande maioria é por recurso a métodos laterais. O Euromilhões é a única esperança do Português que sabe ter assim mais hipóteses de enriquecer do que investindo no trabalho. Até os privilegiados estão convencidos que o destino se muda com a sorte. O Euromilhões é um fenómeno nacional porque vivemos num país pobre e sem ambição.
2 Comments:
Carrapatoso é o autor do texto, sendo ele um fazedor de sonhos, os dele.
Decerto subiu a pulso, decerto a estória das finanças é apenas uma estória, como tantas outras mal contada.
Mas ainda bem que os portugueses acreditam no Euromilhões. porque alguns , muitos já sabem onde ir buscar o que não têm e o fenómeno ir-se-á alargar.
Este caldo está a apurar e a empurrar para uma sociedade cada vez mais violenta.
Por mim quando não tiver vou roubar e matar se necessário dizia uma doninha ao meu clã de longe.
É este o grande milagre do liberalismo e da globalização que é a mesma coisas.
Assim ser liberal ou ultra liberal, para os patrões protegidos e naturalmente ladrões, salvo honradíssimas e de dfícil sustentatação é fácil dizer que é possível o milagre, comparando decerto com o sonho americano, do menino pobre que se transformou em homem rico, não existindo neste exemplar país proteccionismo de espécie alguma, onde o trabalho precário é a lei, onde ganha em geral 6 US D à hora, sem garantia, com um sistema de saúde só para quem tem e quem tem normalmente é ladrão, chamado homem de iniciativas.
Assim as profissões de sucesso são: banqueiros, advogados , actores de todo o tipo, empresários que vieram do nada e descendente decerto de determinadas castas ou políticos empresários ou ainda mafiosos e bandidos de todo o género.
Para manter isto, vão buscar aos pretos e latinos, como os judeus gostam de chamar, os soldados mercenários para proteger ou fazer as incursões como os corsários no tempo dos ingleses e holandeses, e pucos chegam a coronéis, como é de saber, apenas alguns mas bem lobotomizados e que sabem que há um risco que se não pode pisar e para mostrar ao mundo que são os campeões da democracia regime decerto ideal desde que os donos sejam sempre os mesmos.
Os outros estão na valeta ou presos, como convém.
O milagre dos senhores carrapatosos e dos senhores belmiros são estes, secundados pelos senhores dos sindicatos que gostam de ladrar e dos senhores dos partidos olíticos que gostam de roubar e de desviar os olhos e dar o que não é deles.
Portanto ainda bem que se joga e se acredita no Euro milhôes e não na roleta russa, mas com a arma virada para os miolos dos homens de sucesso.
Ainda bem que os cínicos têm ainda cara de cínicos e ainda reconhecem o cheiro entre eles, não vão se comportar como as ratazanas que atacam quando andam constipadas os da sua espécie.
Espero que caldo entorne, porque está a engrossar e não param de atirar achas para a fogueira.
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