Das paixões às convicções.
"Por causa da crise económica, do aumento dos impostos, particularmente do IVA e do preço dos combustíveis, muitas empresas espanholas, que nos últimos 15 anos se instalaram do lado de cá da fronteira, estão a ponderar o regresso a Espanha."
Juntamente com as empresas espanholas, há muitas pequenas empresas portuguesas a fazer o mesmo.
"O Estado não pertence a quem ocupa temporariamente o topo do seu aparelho, mas a quem cá fica para pagar a conta, normalmente com IVA agravado.
Quando regressou ao poder pela mão de José Sócrates, uma das preocupações mais evidentes do Partido Socialista foi marcar a diferença em relação à última experiência governativa do PS. O próprio “Senador” António Vitorino avisou os jornalistas que com a nova equipa governativa, por contraste com o reinado de Pedro Santana Lopes, as relações com o poder iriam mudar: “habituem-se”, foi o ‘soundbite’ que ficou dessas declarações.
E, de facto, as coisas mudaram. Onde antes existia diálogo, hoje há reflexão e decisão. Onde antes havia paixão, hoje temos convicções. É justo reconhecer que José Sócrates demonstrou coragem ao enfrentar diversos ‘lobbies’ instalados, e continua a tomar medidas tão imprescindíveis que a única surpresa é porque raio não foram tomadas há anos-luz atrás. Mas para o elogio do Governo, o melhor é ler o artigo de Jorge Coelho, que me olha com ar expectante do alto desta página.
Nesta coluna, a preocupação é saber se a convicção socrática é melhor para o País do que a paixão guterrista. Convém lembrar que também António Guterres, ao final do primeiro ano de mandato, gozava de um estado de graça alimentado pela comparação entre o seu diálogo e a rispidez do seu antecessor, o Professor Cavaco, que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava. O diálogo levou-nos ao Pântano.
O País tem sido governado há demasido tempo com base em estados de alma. E nisso, a sapiência quase absoluta do Professor, as paixões de Guterres, os pobrezinhos de tanga de Durão Barroso e a convicção de Sócrates são apenas mais do mesmo. Partem da interpretação daquilo que os governantes acham que o povo quer. E mostram até que ponto a democracia portuguesa continua verde.
A mudança que mais importa é a introdução de uma cultura da responsabilização dos governos. Não a responsabilização nas urnas ao final do mandato, quando é demasiado tarde para inverter os estragos ou quando os culpados já fugiram para paragens mais tranquilas, mas a responsabilização diária, a prestação de contas sobre todas as medidas que se tomam. O Estado não pertence a quem ocupa temporariamente o topo do seu aparelho, mas aos que cá ficam para pagar a conta – normalmente com IVA agravado."Pedro Marques Pereira
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