O dia está negro.
O dia está negro. O ar está saturado de uma eterna chuva grossa que alaga tudo. O vento sopra loucamente. Apesar de nos raros intervalos de céu azul o sol irradiar em toda a sua pujança e beleza, a maior parte do tempo está ominosamente escuro e ameaçador, sombra de mau agoiro que cobre a cidade.
Eis que vindo do nada um carro pára em frente da janela. A porta abre-se e uma figura feminina sai apressadamente. O carro parte rapidamente. Da figura, nem fumaça.
No vidro, as gotas de chuva desfocam a solidão da paisagem. O tempo passa lentamente. Como é dura a espera. De vez em quando, uma silhueta surge do nada para desaparecer de seguida nas sombras. Os olhos vão-se fechando e o sonho invade o corpo cansado.
De súbito um barulho mata o sonho e traz de volta a realidade. Na porta, uma silhueta feminina paira. Uma madeixa húmida de cabelo atravessa-lhe a face repleta de gotas de chuva reluzentes.
A suave vibração da sua voz hipnotiza, forçando a seguir-lhe primeiro as ondulações sonoras antes de extrair qualquer sentido nas suas palavras. A voz cala-se abruptamente dando lugar a um inesquecível sorriso. Contemplou o vulto paralisado á sua frente, possuído por turbulentas emoções. Uniram-se num eterno beijo.
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