sábado, fevereiro 27, 2010

A floresta da ética

"A Comissão de Ética parece-se cada vez mais com o Capuchinho Vermelho. Está perdida na floresta que plantou. Com um pouco de sorte, nunca conseguirá descobrir a saída e acabará devorada pelo Lobo Mau. Não se perderia grande coisa. A chamada de dezenas de pessoas para testemunhar sobre a liberdade de expressão e a de imprensa (dois valores que estão a deixar de ser semelhantes) está a servir para que a comédia de enganos se tenha instalado no local. Já não se percebe o que as pessoas estão ali a justificar e, pior, não se entende já o que se pretende saber. Se os deputados soubessem o que querem saber, o que estão ali a fazer e fizessem o trabalho de casa, todos estes acontecimentos inexplicáveis seriam mais fáceis de explicar. A verdade é óbvia, mas preferiu-se fazer um drama com muitos episódios para ver se há algum final feliz como em Hollywood.
A Comissão de Ética não quer saber nada. Senão, em vez de questionar os jornalistas sobre quem são os accionistas das empresas de comunicação social deste país, mandava saber isso. Mas nem isso a Comissão de Ética se deu ao trabalho de fazer. Criou-se um labirinto de questões, de onde ninguém sairá com conclusões. A inquirição é uma sopa de pedra: cabem lá todos os condimentos. O resultado será simples: não terá sabor a nada. A Comissão de Ética vive em lua-de-mel com as suas questões e o País sofre com os pesadelos desta comédia sem arte. Criou-se um teatrinho para os deputados representarem uma ficção sem sentido. No meio de tantas perguntas sem nexo ninguém encontrará as respostas fulcrais."

Fernando Sobral

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