sexta-feira, fevereiro 26, 2010

O nascente e o poente

Passo os dias fazendo perguntas,
procurando respostas,
indagando,
olhando o que parece estar mal e muitas vezes está bem,
para além do que me é possível saber,
para além do que é aquilo que penso ser o meu ser,
se apenas o meu ser também será o que penso ser,
mas o que me preocupa, quem quer saber?
São apenas coisas sem importância por que minhas.
Por vezes torno-me injusto e exijo o que não pode acontecer,
quero no fundo viver os suaves milagres,
mas esses,
são o poder viver sem grande sofrimento, tu sabes,
viver apenas, assim,
como as almas que me atormentam como cumprimento de penas,
as almas que não choram as lágrimas para fora,
e que só fazem fechar os olhos para as chorar para dentro,
porque assim apenas não me fazem pensar,
não me deixam apreensivo,
mas eu estou habituado a viver a tristeza,
porque ela faz parte de mim há muito,
e ela é a minha companhia,
digamos que sou um veterano, em tristeza,
por isso não suporto viver,
e sentir que ela está a passar de mim para outro ser,
porque não quero repartir essa coisa que se me colou à alma,
quero manhãs mais promissoras,
quero madrugadas em que te aqueça os pés se estão frios,
quero fins de tarde de cansaço feliz e aconchegado,
quero ver as paisagens que estão ainda para ver,
quero sentir mais felicidade no teu olhar,
no teu ser,
não quero lágrimas que se não vejam nos teus olhos,
quero que a tua alma seja um espelho sem defeitos de imagem,
quero que esse espeho não tenha defeitos,
mesmo que o tenha de partir para o mudar por outro,
quero que o impossível seja todos os dias,
quero ser a teimosa pedra de Sísifo,
quero ser a sua tarefa até morrer exausto,
quero quebrar esse desencanto,
quero quebrar o teu desalento,
quero voltar a ver o teu sorriso,
e ouvir o seu cristalino som,
quero que não te preocupes com as minhas tarefas,
porque quando quero sou teimoso como Sísifo esse ser da mitologia,
só que menos forte, mas teimoso,
e a teimosia é uma força,
quero que não te fragilizes,
quero ver tua força,
quero que a conserves e a contagies,
quero porque sei ler as almas que sei ler,
sei ver um raio de sol antes dele nascer,
sei que as madrugadas não são poentes,
sei que as coisas partidas se conseguem colar se tivermos paciência e saber,
por isso, quero que a felicidade seja o nascente e o poente da tua vida,
mesmo que me não aqueças os pés,
que me não segures as mãos,
que me não seques as lágrimas,
porque quero ser autêntico, quero ser eu,
assim como o homem da forja,
teimoso como Sísifo,
duro como a pedra que teima a rolar do cume,
torto como a montanha de onde ela teima em voltar,
quero que sejas o mais feliz dos seres, porque sim,
porque a vida é feita de nascentes e poentes,
e cada um tem os que tem,
porque não os controlamos e ainda bem,
porque quero voltar às portas do deserto e voltar a chorar as lágrimas da impossibilidade,
de não voar na criatura que Alá criou do vento do Sul,
do cavalo que voa sobre os ventos do deserto,
no silêncio que só o deserto tem,
porque quero que seques as lágrimas que choras para dentro da tua alma,
quero que sejas o que queres ser,
quero que as manhãs te nasçam radiantes mesmo que esteja a chover,
mesmo que o vento não esteja feição,
porque te ensino a bolinar,
é só procurar o vento e ser paciente,
e ser paciente é viver,
é gozar o nascer e esperar o sol poente,
gozar o esplendor das suas cores,
porque são sempre diferentes, basta saberes olhar...

2 Comments:

Anonymous Pelos ares said...

Hoje não é dos melhores dias para fakar sobre o vento! :)

sábado, fevereiro 27, 2010  
Blogger Toupeira said...

Pois é que temos vento... e pouco mais.

sábado, fevereiro 27, 2010  

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