quinta-feira, fevereiro 25, 2010

O poder amordaçado

"Se os objectivos da Comissão parlamentar de Ética são ridicularizar o assunto que a levou a reunir-se e promover o livro de Mário Crespo, a comissão cumpriu os objectivos - com o bónus de nos elucidar sobre o nível médio dos nossos representantes.

Na audição de Crespo, por exemplo, uma deputada socialista inverteu os termos em análise e avisou, com ar alvoroçado, para o perigo de se abolir a livre expressão dos governantes. Ainda por cima, a excêntrica lembrança não foi um alívio pessoal da senhora: a recente convocatória por SMS de uma manifestação "espontânea" de apoio ao eng. Sócrates, a realizar na memorável Fonte Luminosa, também referia a urgência em proteger "a democracia e a liberdade".

Aparentemente, há por aí gente convencida ou interessada em convencer os outros de que o primeiro-ministro que manda no país há cinco anos, quase todos com maioria absoluta na AR, está a ser alvo de uma campanha para o silenciar. Por acaso, julgo que a campanha, a existir, visa fazer com que o eng. Sócrates fale, e fale bastante mais do que as trivialidades sentimentais com que responde às acusações de interferência nos media.

De qualquer modo, mesmo os governos formalmente democráticos possuem demasiado poder para necessitar de aclamações populares, de resto típicas de ditaduras e regimes afins. O PS, ou os que tomam as dores do PS, não percebe esta evidência. O povo, incluindo o povo que aprecia o eng. Sócrates, talvez perceba, e por isso não terá comparecido a uma manifestação entretanto cancelada por falta de espontâneos. Ou então pela brutalidade da censura, hipótese a esclarecer sem demora e, literalmente, sem olhar a meios: sugiro nova reunião da Comissão de Ética.
"

Alberto Gonçalves

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