quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Se o dr. Nobre não existisse

"Talvez seja um sintoma do curioso estado a que o País chegou, mas além de cumprirem os preceitos constitucionais (idade, nacionalidade, etc.), até ver todos os candidatos confirmados às próximas "presidenciais" convergem num critério: são apreciadores de "Che" Guevara.

Manuel Alegre manifestou a reverência através de um longo poema que ocupa um livrinho de 40 páginas (aliás bem bonito: "De todos os guerrilheiros / ele é o único insepulto / nem sequer se sabe se ressuscitou / ao terceiro dia / Não está em parte nenhuma / o que significa que pode estar em toda a parte"). Fernando Nobre escolheu o elogio em prosa, e declara sentir "certa admiração" pelo seu "colega de profissão", cujo fascinante exemplo o inspira a acreditar que "muitas vezes isto só se resolve com metralhadora" (entrevista à Notícias Magazine, 21 de Setembro de 2008).

Diga-se que Ernesto Guevara não é o único psicopata que entusiasma o dr. Nobre, que noutras ocasiões confessou prezar bastante o Hezbollah, agremiação composta por, cito, "gente qualificada, professores universitários, muitos médicos". Por este andar, é possível que o dr. Nobre acabe a gostar do velho Mengele. O dr. Nobre apenas não gosta de Israel, dos Estados Unidos e, vá lá, do Ocidente em geral, que responsabiliza por cada mal da Terra, incluindo o de oprimir o Islão e o de excitar o respectivo fundamentalismo, que estava tão sossegadinho, coitado. O mundo restante é um paraíso onde as chatices se resolvem a tiro e onde não prosperam aberrações como democracias, partidos e as "politiquices" (sic) de que o dr. Nobre, do alto das autoproclamadas "multiculturalidade" e "mundivivência" (?), garante fugir.

Não fugiu o suficiente. Só nos últimos anos o dr. Nobre apoiou activamente políticos de três partidos diferentes e agora concorre a uma eleição democrática, consta que a pedido de Mário Soares para irritar Alegre. O discurso de apresentação, naturalmente populista e assustador, foi uma demorada elegia a Portugal e, o que não espanta em quem prefere a acção à teoria, um atentado de metralhadora em riste contra a língua portuguesa. Do que consegui decifrar, ouvi o santo fundador da AMI prometer que a candidatura "não será inútil". O prof. Cavaco concorda. Se o dr. Nobre não existisse, não teria de ser inventado
."

Alberto Gonçalves

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