segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Mansos Costumes

"Enquanto um ministro jura que o Estado "não tem responsabilidade directa" na escolha dos administradores da PT, um dirigente socialista lamenta a nomeação de "dois jovens impreparados para a PT". A verdade está no meio? Sem dúvida, se alguma verdade sobreviver a tamanhos malabarismos verbais.

Por um lado, os "jovens" em questão apenas se revelaram "impreparados" na medida em que permitiram a divulgação pública dos planos do Chefe Maior (sic). Por um lado, o conceito de "responsabilidade directa" permite esconder as inúmeras interferências que resultam da "responsabilidade indirecta", se quisermos designar assim o controlo que o Estado, leia-se o Governo e leia-se o partido do Governo, mantém em diversas empresas inexplicavelmente públicas ou "privadas" no eufemístico sentido da PT. Não é à toa que o eng. Sócrates regularmente aconselha mais Estado para solucionar a crise, desde que por "crise" se entenda uma necessidade acrescida de empregar serviçais, manipular negócios, comprar favores, calar dissidências e, em suma, utilizar o dinheiro de todos para assegurar o peso e a influência de uns poucos.

Porém, não se culpe exclusivamente o eng. Sócrates, ou sequer o PS. Os dois partidos comunistas gostariam de nacionalizar praticamente tudo, incluindo a mercearia que me vende a ração dos cães. E a própria direita é menos adepta da livre iniciativa do que a fama sugere. Ainda há dias, os três candidatos à liderança do PSD criticavam por conveniência a golden share na PT e lembravam por convicção a importância reguladora do Estado e o "interesse nacional".

Certo é que os governos passam e, chame-se-lhe "regulação", "interesse nacional" ou "polvo", o lastro estatal na economia permanece essencialmente imaculado, quando, como também acontece, não sofre dilatações. Perante uma conhecidíssima tradição pátria, é um bocadinho estranho que, face à descoberta das actividades lúdicas dos administradores "impreparados", um administrador experiente da PT se sinta "encornado". E é muito estranho que o cidadão comum não se sinta. O cidadão comum resmunga imenso mas, numa expressão coerente com a potência estilística do dr. Henrique Granadeiro, em última instância tende para o manso
."

Alberto Gonçalves

3 Comments:

Anonymous DO said...

Nem a tragédia da Madeira, que faria qualquer primeiro-ministro de qualquer país do Mundo com alguma consciência do cargo que ocupa suspender qualquer acção partidária, travou o passo de José Sócrates. Ele tinha de falar às suas hostes que, unidas mas desanimadas, precisavam das palavras reconfortantes do seu líder ferido.

No Porto, estavam ali para ouvir o guião de mais um episódio desta deprimente novela. Tudo como antes. Primeiro o escândalo. Depois a mentira e a fuga para a frente. A seguir a negação sem que qualquer facto a demova. Por fim, a tese repetida da "campanha negra". Uma tese que se dirige apenas aos convencidos e que se resume a uma única mensagem: não pensem no que ouvem, no que lêem, no que vêem. Não interessa se é falso ou verdadeiro. Porque até a verdade é nossa inimiga.

Nenhum primeiro-ministro foi vítima de tantas, dizem. Sim, é verdade que nenhum passou por tantas revelações de pequenos e grandes escândalos. Podemos até supor que uns são verdade, outros meias verdades, alguns serão mesmo falsos. Mas porquê tantas vezes?

Porque nunca, nos últimos 35 anos, tivemos em Portugal um primeiro-ministro com um percurso e um perfil ético tão desadequado para o cargo que ocupa e a quem as ditas "campanhas" se colassem tão bem. Sim, e esta evidência não resulta de nenhuma campanha, José Sócrates é um mentiroso. E mente mesmo quando a verdade se pode revelar logo no dia seguinte. Sem receio.

Porque nunca um Governo incompetente se associou de forma tão perfeita a uma oposição tão risível nas suas mesquinhas contendas internas. O que foi o PSD nos últimos cinco anos senão uma anedota de si próprio?

Porque nunca governante português, em democracia, conseguiu fanatizar até este ponto a sua base de apoio. De tal forma que todos os factos, por mais escandalosos ou suspeitos que se revelassem, foram ignorados por gente que se tem por ser de bem. Tirando algumas honrosas excepções que nos últimos cinco anos foram mostrando o seu incómodo - Ana Gomes, Manuel Alegre, Medeiros Ferreira e pouco mais -, sobram ao PS os que depois de José Sócrates voltarão à sua inexistência política, os que por pura lealdade partidária repetem argumentos delirantes nos quais é impossível que acreditem e os que já se tendo deixado abater pelas evidências preferem o silêncio à espera que rei caia do trono. Depois de cinco anos de vergonha e conivência, quem é a consciência moral dos socialistas?

Tudo isto deixará marcas. Na Comunicação Social, pela falta de rigor e pela fácil instrumentalização. Na Justiça, pela incompetência estrondosa que foi demonstrando. No PSD, pela sua inexistência patética. Mas, acima de tudo, no Partido Socialista.

Quando, ao olhar para trás, a passagem deste homem pelo Governo for apenas uma memória, os socialistas, aqueles que realmente o são, olharão para ausência de sentido crítico que marcou estes anos, para a inércia perante os abusos de alguém sem currículo político para chegar onde chegou e para o grau de fanatização a que ele levou um dos partidos fundadores da nossa democracia, e perceberão como o PS é frágil nas suas convicções quando lhe cai o poder nas mãos. Como um partido com a história do PS pode tão facilmente passar a ser um partido de um só homem. Um partido acrítico, obediente, sem orgulho.

O país, esse, talvez venha a perceber que esta alternância, onde o poder se perde mas nunca se ganha, em que a oposição entra em pousio até que o Governo do momento caia de podre, só nos pode levar à desgraça. Depois de Sócrates pode vir pior do que Sócrates. Porque o que virá depois de Sócrates nada fez para lá chegar. Vencerá porque Sócrates foi Sócrates. O próximo primeiro-ministro não terá dado provas de nada. E tudo se pode repetir de novo. Só que com outro partido. Só que com outro protagonista.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010  
Anonymous Neto said...

O PS tem muitos telhados de vidro: no plano material e no plano ideológico.Do financiamento do Partido (histórias de Macau,por ex.) ás coligações do PS com o CDS e um ajoelhar-se de Mário Soares a Carlucci,o embaixador americano.São velhas contradições e factos que estão ainda frescas e que levam ao apadrinhamento de Sócrates por parte de Almeida Santos-o Ministro da Coordenação Interterritorial e que superintendeu na descolonização-e Mário Soares.Sócrates sabe disto tudo, só que pisou o risco vermelho:aldrabou com a Universidade, mostrou-se ignorante nas grandes questões políticas e rodeou-se-protegendo-os,de um bando extasiado com a demasiada facilidade com que se podia ganhar dinheiro.Num País pequeno e em crise,mas com uma comunicação social que,em muitos casos não se verga-a careca do rei vai nú veio ao de cima. Mentir-e mentir repetidamente como Sócrates se habituou, criou-lhe um beco sem saída:a rua.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010  
Anonymous Desiludido com eles said...

O que mais me choca nesta altura já não é a atitude de Sócrates perante este lamaçal em que colocou o país. As minhas convicções sobre o seu carácter são antigas e por isso já nada me surpreende.
O mais triste é ver todo este unanimismo à volta deste homem no PS. Qual partido plural, qual carapuça. O PS é Sócrates e o resto é conversa.
Sinceramente, parece-me que o homem armadilhou de tal forma o partido, que até as vozes normalmente mais divergentes, estão, mais uma vez, escondidas (Onde anda o António José Seguro, por exemplo?).
Os restantes, incluindo os "mais velhinhos" (Soares, Almeida Santos, etc...), parecem de tal forma comprometidos, que a sua única saída é apoiar "o Príncipe das Trevas". Cada vez me parece mais que o PS é um enorme campo de minas prestes a deflagrar e que Sócrates é o "Homem do Detonador". Ninguém o quer abater porque todos têm medo das consequências da bomba de fragmentação que pode explodir a qualquer momento.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010  

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