domingo, março 25, 2007

Ases pelos ares

"Se o Governo quer a Ota, isso prova que a Ota é essencial. Por mim, a palavra do ministro Mário Lino basta. Há muito que as sinistras teias do boato sugerem uma explicação soberana para o aeroporto na Ota, só na Ota, sempre na Ota. Trata-se, claro, da velha tese da especulação imobiliária, com ‘testas de ferro’ que sondam terrenos de velhinhos incautos, terrenos comprados por uns tostões e figuras gananciosas que empurram o poder para o negócio e aguardam o lucro.

É impressionante, em pleno século XXI, existir quem se lembre de enormidades assim. Acreditar que a Ota se move por desígnios particulares equivaleria a acreditar que as nossas instâncias representativas são permeáveis à influência, à corrupção e à fraude. Afortunadamente, a maioria dos portugueses não vai em delírios, como não foi na patética tentativa de poluir a comprovadíssima licenciatura do eng. Sócrates, por exemplo. Excepção feita a umas dúzias de conspiradores e invejosos, os portugueses honrados sabem que os demais portugueses são tão honrados quanto eles. E que os portugueses no Governo, por inerência do cargo, ainda o são mais.

Se o Governo quer a Ota, isso prova que a Ota é essencial. Por mim, a palavra do ministro Mário Lino basta. Eu vi, entusiasmado, o eng. Lino defender a Ota a título de “compromisso pessoal” e de “interesse nacional”, duas qualificações que na cabeça de um governante autêntico e abnegado se confundem com naturalidade. E vi, de coração apertado, o eng. Lino confessar-se “triste” devido às críticas gratuitas do pérfido dr. Mendes. Não chega? Sobra. Mas também vi, há dias, o imparcial debate na Sic Notícias, no qual até os opositores da Ota acabaram por reconhecer a magnificência da escolha.

Claro que, à margem da verdade, ou seja, ao largo do interesse nacional, dos esforços do Governo e dos meios de comunicação que civilmente divulgam os esforços do Governo, subsiste uma doentia reacção à Ota. Uma reacção, imagine-se, fundamentada em estudos e irrelevâncias: a zona é um pântano; a topografia é um perigo; os ventos idem; os acessos são inviáveis; o aeroporto não comporta o volume de tráfego que o legitima; etc.

Convenhamos: nenhum dos pobres argumentos sobrevive ao confronto com as firmes convicções governativas e a opinião de especialistas com antena televisiva. Apenas a excessiva tolerância do primeiro-ministro o terá levado, esta semana, a admitir a pertinência de algumas dúvidas em volta da Ota. Mas de facto não há, nem haverá, quaisquer dúvidas.

Há, sim, uma oposição rancorosa que recorre a tudo para alimentar a baixa política. E há uns senhores (felizmente sem entrada nos debates técnicos) que, ao serviço de objectivos partidários ou piores, simulam sapiência ostentando títulos de geólogos, peritos em aeronáutica e engenheiros. Engenheiros? E Mário Lino é o quê? Já para não falar, evidentemente, do próprio primeiro-ministro
. "

Alberto Gonçalves, Sociólogo

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os favores pagam-se e pagam-se bem caros, só que o problema e que estes favores são pagos sempre pelos mesmos, ou seja por quem nao os deve. QUEREM COMBATER O CORRUPCAO? ENTAO COMECEM JA PELA OTA.

segunda-feira, março 26, 2007  

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