domingo, agosto 26, 2007

Para os muares que ainda puxam a nora -III

6. Os “Dream Teams”
6.1. Os Globetrotters americanos

A equipa americana, para além de Kissinger, destacado membro da Santíssima Trindade fundamentalista da superioridade moral da “Civilização Ocidental” (BG+TC+CFR), incluiu outros sequazes seus, todos políticos com lugar cativo na categoria dos pesos pesados da NOM anglo-americana:

- George P. Shultz, também octogenário (86), foi um influente Secretário de Estado no 1.º mandato da administração Reagan/Bush (pai) entre 1982-1989. Muito experiente na gestão do gigantesco aparelho diplomático e na condução da política externa do país, Schultz ocupou, com discrição mas poderosa influência, vários cargos ministeriais na administração Nixon; simultaneamente dirigiu e comandou (1974-1982) a gigantesca Bechtel (um dos maiores conglomerados industriais, nas áreas da construção civil, obras públicas, petróleos, energia nuclear e equipamentos de defesa, com estatuto de fornecedor directo do Pentágono). Tal como Kissinger, é membro de vários think tanks, como o CFR. Juntamente com Condoleezza Rice (sua protegida no mundo académico e na alta política) foi instrumental na estratégia que, desde 1998, definiu e coordenou a eficaz plataforma eleitoral republicana. Em 2000, George W. Bush jurou “respeitar e fazer respeitar” a Constituição americana na cerimónia de posse como 43.º presidente dos EUA;

- Robert Rubin, (68), banqueiro de topo e “partner” em empresas financeiras do grupo Rockefeller (Citigroup, Goldman Sachs, p. ex.). Foi Secretário do Tesouro (1995-1999), cargo que nos Estados Unidos é equivalente ao de ministro das finanças na Europa, na administração Clinton/Gore; é membro da Phi Beta Kappa Society, a mais antiga associação académica e honorífica americana, que estimula e reconhece a excelência universitária. Fundada em 1776, a PBK aglutina mais de meio milhão de membros; actualmente é também vice-presidente em exercício do CFR;

- Thomas Graham, Jr., embaixador (73 anos), um dos mais experimentados diplomatas e negociadores americanos sobre questões relacionadas com controlo de armamento, não proliferação de armas nucleares e desarmamento; desde os anos 50, foi conselheiro de vários presidentes e de uma miríade de órgãos do poder executivo e legislativo dos Estados Unidos, bem como de inúmeras ONG’s, fundações e organizações cívicas; é um vibrante defensor da tolerância zero relativamente à proliferação nuclear e ocupa cargos executivos e consultivos num significativo número de empresas;

- Samuel Nunn, antigo senador da Geórgia (1972-1997), foi, em 2001, co-fundador com Ted Turner (o visionário empreendedor que criou a cadeia televisiva CNN), da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear (NTI, acrónimo inglês), ocupando até ao presente os cargos de co-presidente e presidente do conselho de administração (CEO) daquela influente organização, cuja principal missão consiste em reduzir a proliferação de ADM’s – Armas de Destruição Maciça; Neste campo liderou louváveis e eficazes processos legislativos (Programa de Cooperação para a Contenção de Ameaças, também conhecido como Programa Nunn-Lugar (por ter sido elaborado conjuntamente com o senador Richard Lugar) no âmbito da Agência para a Contenção de Ameaças Militares; desempenhou um papel central como dinamizador, em estreita cooperação com o Kremlin, dos meios financeiros e logísticos necessários para efectivar o desmantelamento de ADM’s e correlativas infra-estruturas na ex-URSS e países satélites, conforme o acordo SALT II (Tratado para a Limitação de Armamento Estratégico). Fundou e é docente na Sam Nunn School of International Affairs, faculdade integrada na Universidade Técnica da Geórgia, e ocupa o cargo de presidente do conselho de administração do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. Acumula estes cargos com os de administrador de grandes multinacionais como a petrolífera Chevron Corp. (Grupo Rockefeller), Coca-Cola, General Electric e Dell Computer.

- David O’Reilly, 60 anos, irlandês é, desde 2000, o presidente e CEO da Chevron Corp. Fez toda a sua carreira, após a formatura em engenharia no University College, em Dublin, e tal como os seus compagnons de route nesta “operação Estrela Vermelha”, é um executivo de topo e membro activo de várias organizações, públicas e privadas, think tanks (institutos de estudos e pesquisa) e de instituições que se ocupam de assuntos geopolíticos e geoestratégicos relacionados com a indústria petrolífera. Eis uma pequena parte da longa lista: Director da Comissão Executiva e da Comissão de Políticas Públicas do American Petroleum Institute; Director do Eisenhower Fellowships Board of Trustees; membro do World Economic Forum's International Business Council, do National Petroleum Council, do Business Council, do JPMorgan International Council, do King Fahd University of Petroleum & Minerals International Advisory Board, da American Society of Corporate Executives. Final e incontornavelmente é membro proeminente da poderosa Trilateral Commission [co-fundada, em 1973, por David Rockefeller e Zbigniew Brzezinski, antigo Conselheiro para a Segurança Nacional (1977-1981) na Administração Carter].
6.1. A equipa da Federação Russa
- Yevgeny Maximovich Primakov, Para além de antigo primeiro-ministro foi, entre outros cargos importantes, o último porta-voz do Soviete Supremo da URSS e, a seguir ao golpe militar de 1991, director-adjunto do KGB. Os seus críticos e inimigos, internos e externos, acusam-no de, entre 1956-1970 ter sido um agente encoberto do KGB, disfarçado de jornalista radiofónico e corresponde do jornal oficial do PC da URSS, Pravda (A Verdade), no Médio Oriente. Nome de código: Maksim. No final do consulado Yeltsin, como ministro dos Negócios Estrangeiros (1996-1998), a sua acção ficou marcada pela política de “desacoplamento” de Moscovo relativamente a Washington, impondo um curso mais de acordo com a tradição russa – nacionalismo, reforço da segurança externa e aumento da influência e controlo sobre as políticas internas nas jovens repúblicas recém independentes das “garras de Moscovo”. Por outro lado, foi neste período que o Kremlin reforçou os seus laços com a China e a Índia, abrindo caminho a um contrapoder à supremacia unilateral estadunidense. Primakov, entre 1999/2000, ainda se aventurou como potencial adversário de Putin nas eleições presidenciais que se seguiram à inesperada renúncia de Yeltsin, em 31 de Dezembro de 1999. Manobrista e táctico, quando percebeu que não tinha apoios suficientes para o vencer, o ex-KGB abandonou a corrida e pouco depois era conselheiro do actual chefe do Kremlin.
- Sergei Viktorovich Lavrov, 57 anos, licenciado em 1972 pelo Instituto do Estado de Moscovo de Relações Internacionais; domina com proficiência diversas línguas (inglês, francês e cingalês). Este último aprendeu-o no Sri Lanka (antigo Ceilão), onde iniciou a sua longa carreira diplomática – com cargos sucessivamente mais importantes quer no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Moscovo (1976-1981), quer na ONU (1981-1988) onde cumpriu uma primeira missão. Nos anos de brasa, que coincidiram com o final da era Gorbachev e o início da era Yeltsin, regressou a Moscovo, ao MNE, onde retomou o seu percurso como director-adjunto do Departamento de Relações Económicas Internacionais (1988-1990), tendo chegado a vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa (1992-1994); depois voltou a Nova Iorque para chefiar a Representação Permanente da Federação Russa nas Nações Unidas. Em 2004, Putin chamou-o para ocupar o posto de ministro dos Negócios Estrangeiros, sucedendo a Igor Ivanov, um influente representante de uma das quatro facções políticas mais importantes nos corredores do Kremlin (os siloviki, um substantivo que, em russo, significa “poder” e popularmente serve de rótulo aos membros do complexo militar-industrial russo e funcionários da polícia secreta).
- Yuli Mikhailovich Vorontsov, com 78 anos de idade, serviu o país como diplomata de carreira, desde a sua licenciatura, na Escola Superior de Relações Internacionais, Moscovo, em 1952. Tal como Putin nasceu em São Petersburgo. Da escola Gromiko, toda a sua juventude foi dedicada ao estudo e à política; o primeiro posto da carreira ocupou-o em Nova Iorque (1954-1958) integrando a equipa de diplomatas juniores da Missão Permanente da URSS na ONU. Nos anos 60/70 foi conselheiro da Missão e da Embaixada soviética em Washington. Em 1969, era ministro-conselheiro, às ordens do celebérrimo embaixador Anatoliy Dobrynin que mantinha uma relação especial com Kissinger, durante a Administração Nixon. Foi embaixador na Índia, em França, no Afeganistão, durante a ocupação soviética, na ONU, em Washington e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros (1986). No final da carreira foi conselheiro diplomático do presidente Yeltsin, actualmente é vice-presidente da gigante russa UES (uma das holdings que gere a produção e distribuição de energia hidroeléctrica e nuclear; neste cargo tem desempenhado um importante papel negociações com a China para o fornecimento de energia eléctrica e projectos de instalação de centrais nucleares. É claramente um dos homens de confiança de Putin, que o projectou para altos cargos na administração russa, desde que tomou posse como primeiro-ministro, em 07/05/1999; três semanas depois, Drachevsky foi nomeado ministro para os Assuntos da CEI (Comunidade dos Estados Independentes/Bloco supranacional que agrupa 11 países independentes após o desmembramento da ex-URSS: Arménia, Azerbeijão, Bielorússia, Geórgia, Casaquistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Ucrânia, Uzbequistão); Ocupou o cargo durante um ano; A seguir foi nomeado enviado presidencial para o Distrito Federal da Sibéria, até Outubro de 2004, passando depois a ocupar o actual cargo na UES; Leonid Drachevsky é uma personalidade avessa a protagonismos, discretíssimo e, mesmo na Rússia, era relativamente pouco conhecido quando foi, pela primeira vez, nomeado por Putin. “A nomeação mais surpreendente” escreveu na altura o Izvestia, certamente por ser dos poucos “eleitos” para o núcleo duro da governação que não fez carreira nos serviços secretos. Com 65 anos, licenciado em química, serviu o regime soviético nos organismos de topo do desporto russo durante cerca de 25 anos, fechando o ciclo, em 1990-1991, no cargo de vice-presidente da Comissão Estatal para a Cultura Física e Desporto. Depois de várias pós-graduações que foi fazendo ao longo dos anos, na Universidade do Partido Comunista da URSS, enveredou pela carreira diplomática, ocupando diversos postos, intermédios e superiores. Durante sete meses, entre 1998-1999, foi ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros.
- Alexander Livshits, 61 anos, é desde Março do corrente ano Director de Projectos Internacionais da Companhia Reunida RUSAL, gigante russa do alumínio (matéria-prima estratégica para o fabrico de ligas metálicas e componentes estruturais para a indústria aeronáutica e aeroespacial bem como para o fabrico de cilindros hidráulicos); A sua formação académica (economista, com pós-graduação em cibernética), para além de o ter ocupado durante uma boa parte do percurso profissional como estudante, assistente, e professor catedrático de Economia no Instituto de Mecânica de Moscovo (1971-1992), acabaria por o catapultar para a política. Na sequência da dissolução da URSS, foi Director-adjunto do Centro Analítico da Administração Presidencial (1992-1993), chefe da equipa de conselheiros e principal assessor económico do presidente Boris Yeltsin (1994-1996), ministro das Finanças, representante da Federação Russa no FMI (1996-1997); posteriormente foi também representante do presidente russo no Conselho do Banco Central e nas comissões do G8 (1997-2000). Com a chegada de Putin ao poder, assumiu a presidência do Banco de Crédito Russo. Entrou para a holding estatal do alumínio em 2000, e é presidente do Conselho de Supervisão do Soyus Bank. Na fase de transição Yeltsin/Putin destacou-se pelas suas posições críticas face aos Estados Unidos e às tentativas de Washington para isolar economicamente a Rússia. É um firme apoiante de Putin na política de repressão militar dos movimentos independentistas chechenos.- Mikhail Alexeyevich Moiseyev, 68 anos, foi Chefe do Estado-Maior do Exército Vermelho (1988-1991); nasceu no extremo oriente da URSS (Amur Oblast) e frequentou a Academia de Estudos Superiores Militares de Blagoveshchensk, e ingressou nas forças armadas soviéticas em 1961 (unidade de carros de combate blindados). Entre 1969-1972, frequentou um curso de Altos Comandos, na Academia Militar de Frunze, uma das mais reputadas do país na formação de generais e patentes similares, chegando rapidamente ao posto de major-general, na segunda metade da década de 70. Em 1982, foi graduado com a medalha de ouro, pela Academia Militar para oficiais generais do Estado-maior do Exército. Durante os anos 80 comandou tropas no distrito militar federal do extremo oriente, Comandante-geral do exército, cargo do qual foi demitido, em 1991, devido ao seu apoio à insurreição militar que tentou derrubar o presidente Mikahil Gorbachev. Em 1992, foi consultor militar do Soviete Supremo da Rússia, após o que passou à reserva. Fundou um partido político – União – sob o lema “Lei, Ordem, Estado de Direito.” Putin, após vencer as eleições, nomeou-o membro da comissão governamental encarregada de tratar das questões relacionadas com a segurança social dos militares.Estes são “homens do presidente”. Desfrutam de grande poder e de influência política. Mas, outros, que ocupam cargos de alta direcção em gigantescos conglomerados russos – defesa, energia, banca e seguros, telecomunicações, transportes e media – para além das cartas políticas, têm um colete adicional à prova de bala – o imenso peso económico das empresas estratégicas que dirigem e que rapidamente sobem na escala das “galácticas” equipas da globalização.
Publicado por Pedro V. Castro no Blog Intellsteps
Do posfacio de um livro editado em 1998 - False Dawn
A globalização - a disseminação das novas tecnologias, que anulam as distâncias que separam o mundo - não torna universais os valores ocidentais. Torna irreversível um mundo plural. A crescente interligação entre as economias mundiais não significa o crescimento de uma única civiização económica. Isso quer dizer que se deve encontrar um Modus vivendi entre culturas económicas que permanecerão sempre diferentes. (...)
(...)Um mercado livre global é um projecto destinado a falhar. Nisto, como em muitas outras coisas, assemelha-se a outra experiência utópica de engenharia social do século XX, o socialismo marxista. Ambos partilham o convencimento de que o progresso humano deve incluir uma civilização íniva entre os seus objectivos. Ambos negam que uma economia moderna pode surgir sob muitas variantes. Ambos estão preparados para cobrar à humanidade um elevado preço em sofrimento a fim de impor a sua visão singular do mundo. Ambos encalharam no confronto com necessidades humanas vitais. (...) In Falso amanhecer de John Gray- 2000

1 Comments:

Blogger Toupeira said...

" uma civilização única nos seus objectivos"...

domingo, agosto 26, 2007  

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