Sempre a Casa Pia
"A ida de Pinto Monteiro ao Parlamento é mais um episódio sinistro do escândalo nacional chamado Casa Pia.
O senhor procurador-geral da República vai amanhã ao Parlamento explicar aos senhores deputados se anda ou não a ser escutado e se os ruídos estranhos que ouve no seu telemóvel são provocados por deficiências de rede ou mãozinhas marotas que querem acompanhar de perto as suas actividades. Vai ser, com certeza, mais um dos muitos momentos hilariantes que a Casa da Democracia proporciona aos cidadãos deste sítio cada vez mais perigoso e cada vez mais mal frequentado. O tema das escutas é recorrente. De quando em vez, sempre que é necessário desviar as atenções de outros temas mais escaldantes e delicados para os senhores que, no poder ou na oposição, dominam este sítio, lá aparece uma virgem bem colocada a queixar-se de escutas. De imediato salta para a praça pública um enorme coro de donzelas indignadas e aflitas a pedir inquéritos, a fazer declarações solenes sobre a gravidade da situação e propostas interessantes para evitar que, no futuro, alguém possa ser escutado de forma ilegítima, sem o devido controlo do poder judicial.
Passado um tempo, quando a poeira assenta, isto é, quando o assunto que os preocupa realmente deixa de estar na agenda da comunicação social, as tais vozes calam-se muito caladinhas e as escutas voltam a ser cuidadosamente guardadas no armário das armas de arremesso dos senhores que dominam há anos este sítio. As palavras do senhor procurador-geral da República, Pinto Monteiro, vêm a público no momento em que voltam a surgir à luz do dia novas acusações sobre os abusos sexuais a alunos da Casa Pia. As queixinhas do responsável do Ministério Público acontecem quando a ex-provedora Catalina Pestana veio denunciar a continuação da actividade de uma rede de pedófilos no interior da instituição. Os gritinhos indignados sobre as escutas são a poeira necessária, veremos se é suficiente, para desvalorizar e colocar em segundo plano o facto de senhores muito importantes do regime continuarem a ir buscar crianças à Casa Pia para satisfazer os seus criminosos desejos pedófilos.
Desde que o escândalo rebentou em finais de 2002, uma grande parte da classe política, com o PS à cabeça, e altas figuras do Estado fizeram tudo o que era possível e impossível para abafar o caso e evitar que os pedófilos fossem condenados. Substituíram o procurador Souto Moura por Pinto Monteiro, destruíram a brigada que investigou os crimes sexuais, afastaram Catalina Pestana e alteraram o Código Penal e o Código de Processo Penal. A ida de Pinto Monteiro ao Parlamento é mais um episódio sinistro do escândalo nacional chamado Casa Pia."
António Ribeiro Ferreira
O senhor procurador-geral da República vai amanhã ao Parlamento explicar aos senhores deputados se anda ou não a ser escutado e se os ruídos estranhos que ouve no seu telemóvel são provocados por deficiências de rede ou mãozinhas marotas que querem acompanhar de perto as suas actividades. Vai ser, com certeza, mais um dos muitos momentos hilariantes que a Casa da Democracia proporciona aos cidadãos deste sítio cada vez mais perigoso e cada vez mais mal frequentado. O tema das escutas é recorrente. De quando em vez, sempre que é necessário desviar as atenções de outros temas mais escaldantes e delicados para os senhores que, no poder ou na oposição, dominam este sítio, lá aparece uma virgem bem colocada a queixar-se de escutas. De imediato salta para a praça pública um enorme coro de donzelas indignadas e aflitas a pedir inquéritos, a fazer declarações solenes sobre a gravidade da situação e propostas interessantes para evitar que, no futuro, alguém possa ser escutado de forma ilegítima, sem o devido controlo do poder judicial.
Passado um tempo, quando a poeira assenta, isto é, quando o assunto que os preocupa realmente deixa de estar na agenda da comunicação social, as tais vozes calam-se muito caladinhas e as escutas voltam a ser cuidadosamente guardadas no armário das armas de arremesso dos senhores que dominam há anos este sítio. As palavras do senhor procurador-geral da República, Pinto Monteiro, vêm a público no momento em que voltam a surgir à luz do dia novas acusações sobre os abusos sexuais a alunos da Casa Pia. As queixinhas do responsável do Ministério Público acontecem quando a ex-provedora Catalina Pestana veio denunciar a continuação da actividade de uma rede de pedófilos no interior da instituição. Os gritinhos indignados sobre as escutas são a poeira necessária, veremos se é suficiente, para desvalorizar e colocar em segundo plano o facto de senhores muito importantes do regime continuarem a ir buscar crianças à Casa Pia para satisfazer os seus criminosos desejos pedófilos.
Desde que o escândalo rebentou em finais de 2002, uma grande parte da classe política, com o PS à cabeça, e altas figuras do Estado fizeram tudo o que era possível e impossível para abafar o caso e evitar que os pedófilos fossem condenados. Substituíram o procurador Souto Moura por Pinto Monteiro, destruíram a brigada que investigou os crimes sexuais, afastaram Catalina Pestana e alteraram o Código Penal e o Código de Processo Penal. A ida de Pinto Monteiro ao Parlamento é mais um episódio sinistro do escândalo nacional chamado Casa Pia."
António Ribeiro Ferreira
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