THERE'S SOMETHING ABOUT PROCURADORES
"Palavra de honra, deve ser alguma coisa do cargo, ou talvez do palacete da Rua da Escola Politécnica onde se aloja a instituição. Ou é de haver muitas séries de TV daquelas americanas com procuradores heróis que passam a vida a fazer declarações temerárias nos degraus dos tribunais, rodeados de repórteres tresloucados. Certo é que já se começa a desistir de ver um procurador-geral da República que não faça da sua relação com a comunicação social e das denúncias de escutas impotências e bloqueios sortidos uma parte considerável da sua actividade. Cunha Rodrigues descobriu um microfone no chão do gabinete? Pinto Monteiro ouve "barulhos esquisitos" no telemóvel e garante que quando lhe instalaram o fixo no gabinete o aconselharam a "pôr a TV mais alta" quando quisesse ter "uma conversa mais secreta". Souto Moura dava entrevistas à porta de casa e negava que uma pessoa fosse sequer suspeita na véspera de ser constituída arguida? Pinto Monteiro vem, ao fim de um ano de mandato, queixar-se no Parlamento, em directo na TV, que "ninguém manda investigar os detectives privados", enquanto desfolha dossiers de aparelhos de escuta e vigilância que se vendem na Net.
Ora bem. Uma pessoa ouve aquilo e pensa: realmente, isto não pode ser. Mas a seguir pergunta: mas quem é que, neste país, pode mandar investigar os detectives privados? Resposta: o PGR. E por que carga de água não fez aquilo que lamenta não ter sido feito (por ele)? Mistério. Mistério que nada é comparado com o mistério seguinte: Pinto Monteiro anuncia não ter poder para controlar as escutas legais. Uma pessoa ouve e pensa: importa-se de repetir? Então as escutas legais não são sempre autorizadas por um juiz? E controladas por quem dirige a investigação, ou seja, o MP? Pois parece que quem manda no MP não tem a certeza de que é assim - ou talvez tenha a certeza de que assim não é. Quer, pois, "mais poderes para fiscalizar as polícias". "Processualmente", frisa. E uma pessoa pensa: e isso é o quê, ao certo? Mais um mistério. Para juntar ao maior de todos, a saber, isto tudo serviu exactamente para quê?
Certo é que no Parlamento, sorridente sob as câmaras, o procurador se mostrou satisfeito com "toda a atenção que este assunto está a merecer", atribuindo-a ao facto de ter feito as "revelações" numa entrevista, em vez de usar os canais institucionais. A mesma entrevista em que se vangloriou, sublinhando não ser de se vangloriar, de ter conseguido "acabar com o sentimento de impunidade". Num ano - o mesmo em que não conseguiu mandar investigar os profissionais, privados ou públicos, que suspeita fazerem escutas ilegais e no qual considerou ser possível estar ele próprio sob escuta, Pinto Monteiro acha que acabou com o sentimento de impunidade. Não há dúvida: há algo com os procuradores, há."
Fernanda Câncio
Ora bem. Uma pessoa ouve aquilo e pensa: realmente, isto não pode ser. Mas a seguir pergunta: mas quem é que, neste país, pode mandar investigar os detectives privados? Resposta: o PGR. E por que carga de água não fez aquilo que lamenta não ter sido feito (por ele)? Mistério. Mistério que nada é comparado com o mistério seguinte: Pinto Monteiro anuncia não ter poder para controlar as escutas legais. Uma pessoa ouve e pensa: importa-se de repetir? Então as escutas legais não são sempre autorizadas por um juiz? E controladas por quem dirige a investigação, ou seja, o MP? Pois parece que quem manda no MP não tem a certeza de que é assim - ou talvez tenha a certeza de que assim não é. Quer, pois, "mais poderes para fiscalizar as polícias". "Processualmente", frisa. E uma pessoa pensa: e isso é o quê, ao certo? Mais um mistério. Para juntar ao maior de todos, a saber, isto tudo serviu exactamente para quê?
Certo é que no Parlamento, sorridente sob as câmaras, o procurador se mostrou satisfeito com "toda a atenção que este assunto está a merecer", atribuindo-a ao facto de ter feito as "revelações" numa entrevista, em vez de usar os canais institucionais. A mesma entrevista em que se vangloriou, sublinhando não ser de se vangloriar, de ter conseguido "acabar com o sentimento de impunidade". Num ano - o mesmo em que não conseguiu mandar investigar os profissionais, privados ou públicos, que suspeita fazerem escutas ilegais e no qual considerou ser possível estar ele próprio sob escuta, Pinto Monteiro acha que acabou com o sentimento de impunidade. Não há dúvida: há algo com os procuradores, há."
Fernanda Câncio
Etiquetas: No reino do politicamente correcto.
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