Conjuntura adversa e empresas
"As consequências de uma crise económica e financeira nas empresas não se driblam com habilidades políticas.
As consequências da crise financeira americana na economia europeia e mundial já não deixam ninguém indiferente e continuam a causar legítima preocupação. Que pensa e faz Portugal?
Os governos da UE esforçam-se por aparentar calma e evitar o pessimismo. Portugal procura seguir a mesma atitude. Os máximos responsáveis, limitando-se ao que acham ser “o seu papel”, não deixam de revelar alguma inquietação ao falar de “incertezas”, mas procuram desdramatizar e transmitir confiança, sublinhando que o país está “melhor preparado” que no passado para enfrentar as eventuais consequências negativas. Referem a melhoria do défice das contas públicas, o crescimento sustentado da economia, com relevo para o aumento das exportações e as reformas em curso. Compreende-se a postura num momento politicamente tão delicado de uma legislatura que se aproxima da recta final e que acaba de viver uma remodelação. E com projecções da economia europeia para 2008 a serem revistas em baixa.
O viajante/empresário percebe, mas considera que seria arriscado ignorar que os cidadãos, e os empresários em particular, bombardeados diariamente por notícias negativas, estão cada vez mais preocupados. Não escapa a ninguém que as autoridades financeiras americanas, desorientadas, baixam as taxas de juro de referência a um ritmo preocupante, e que os governos do Reino Unido, Alemanha, França (e Itália), comportando-se como “donos” da UE, procuram ultrapassar divergências e alcançar um compromisso para responder à crise que já se sente.
Seria um erro admitir que se pode evitar que os cidadãos vejam que aumenta a probabilidade de uma crise económica e financeira mundial grave, gerada por uma recessão americana, com inevitáveis consequências também em Portugal.
Entre os principais organismos e os maiores economistas e responsáveis financeiros mundiais, e nacionais, já ninguém nega a crise. O que se discute é apenas a sua profundidade, a sua amplitude, a sua duração, que resposta dar e as eventuais consequências para os diferentes países, os cidadãos e as empresas, na Europa/Mundo.
Portugal, neste quadro, não se pode limitar a “constatar” e ser um espectador à espera de que a “onda” passe. Deve evitar qualquer pessimismo paralisante, mas com uma atitude mais realista e responsável.
As empresas portuguesas, desde logo as da área do Turismo, não podem ignorar a nova conjuntura, pela simples razão que vão pagar, e já, o preço da crise ainda não declarada: selecção e restrição do crédito bancário e aumento das taxas de juro!
A análise dos empresários não pode, pois, ser a mesma dos políticos. As consequências de uma crise económica e financeira nas empresas não se driblam com habilidades políticas.
Os empresários, ao contrário dos políticos, “vão a votos todos os dias”: com bancos, fornecedores, clientes, trabalhadores, fisco, segurança social, fiscalizações, burocracia! Por outro lado importa ter presente que, como sempre, as mais penalizadas são as pequenas, micro e médias empresas, que são 99,6% das mais de 390.000 empresas (sociedades) existentes em Portugal, e representam 75% do emprego privado (Iapmei, Fev.07). Elas terão agora ainda mais dificuldades em aceder ao crédito o que se vai repercutir no investimento, na criação de emprego e no crescimento da economia.
As empresas do Turismo em particular, que são sobretudo PME, têm todas as razões para seguir com a máxima atenção a evolução da crise financeira internacional, devendo programar a utilização dos seus recursos de forma inteligente e realista.
O Governo não pode ficar indiferente a esta realidade, e deveria, só para dar um exemplo, no quadro do QREN, sem esquecer os objectivos da inovação e da competitividade, dar atenção especial às PME. Começando por não repetir o que aconteceu com o ‘prime’ no QCA3, onde incentivos para as empresas (2000-06) na ordem dos 4 mil milhões de euros, apenas 1100 projectos/empresas (8% de 13.700) receberam mais de 50% dos incentivos! E os outros 92% de projectos, que eram de PME, receberam o restante!
Não basta constatar que há incerteza sobre o futuro. É preciso apontar caminhos e dar sinais que gerem confiança.
Vêm aí tempos difíceis. Importa ter consciência que ninguém, cidadãos, empresas, governo, vai conseguir fugir-lhes. "
Vitor Neto
As consequências da crise financeira americana na economia europeia e mundial já não deixam ninguém indiferente e continuam a causar legítima preocupação. Que pensa e faz Portugal?
Os governos da UE esforçam-se por aparentar calma e evitar o pessimismo. Portugal procura seguir a mesma atitude. Os máximos responsáveis, limitando-se ao que acham ser “o seu papel”, não deixam de revelar alguma inquietação ao falar de “incertezas”, mas procuram desdramatizar e transmitir confiança, sublinhando que o país está “melhor preparado” que no passado para enfrentar as eventuais consequências negativas. Referem a melhoria do défice das contas públicas, o crescimento sustentado da economia, com relevo para o aumento das exportações e as reformas em curso. Compreende-se a postura num momento politicamente tão delicado de uma legislatura que se aproxima da recta final e que acaba de viver uma remodelação. E com projecções da economia europeia para 2008 a serem revistas em baixa.
O viajante/empresário percebe, mas considera que seria arriscado ignorar que os cidadãos, e os empresários em particular, bombardeados diariamente por notícias negativas, estão cada vez mais preocupados. Não escapa a ninguém que as autoridades financeiras americanas, desorientadas, baixam as taxas de juro de referência a um ritmo preocupante, e que os governos do Reino Unido, Alemanha, França (e Itália), comportando-se como “donos” da UE, procuram ultrapassar divergências e alcançar um compromisso para responder à crise que já se sente.
Seria um erro admitir que se pode evitar que os cidadãos vejam que aumenta a probabilidade de uma crise económica e financeira mundial grave, gerada por uma recessão americana, com inevitáveis consequências também em Portugal.
Entre os principais organismos e os maiores economistas e responsáveis financeiros mundiais, e nacionais, já ninguém nega a crise. O que se discute é apenas a sua profundidade, a sua amplitude, a sua duração, que resposta dar e as eventuais consequências para os diferentes países, os cidadãos e as empresas, na Europa/Mundo.
Portugal, neste quadro, não se pode limitar a “constatar” e ser um espectador à espera de que a “onda” passe. Deve evitar qualquer pessimismo paralisante, mas com uma atitude mais realista e responsável.
As empresas portuguesas, desde logo as da área do Turismo, não podem ignorar a nova conjuntura, pela simples razão que vão pagar, e já, o preço da crise ainda não declarada: selecção e restrição do crédito bancário e aumento das taxas de juro!
A análise dos empresários não pode, pois, ser a mesma dos políticos. As consequências de uma crise económica e financeira nas empresas não se driblam com habilidades políticas.
Os empresários, ao contrário dos políticos, “vão a votos todos os dias”: com bancos, fornecedores, clientes, trabalhadores, fisco, segurança social, fiscalizações, burocracia! Por outro lado importa ter presente que, como sempre, as mais penalizadas são as pequenas, micro e médias empresas, que são 99,6% das mais de 390.000 empresas (sociedades) existentes em Portugal, e representam 75% do emprego privado (Iapmei, Fev.07). Elas terão agora ainda mais dificuldades em aceder ao crédito o que se vai repercutir no investimento, na criação de emprego e no crescimento da economia.
As empresas do Turismo em particular, que são sobretudo PME, têm todas as razões para seguir com a máxima atenção a evolução da crise financeira internacional, devendo programar a utilização dos seus recursos de forma inteligente e realista.
O Governo não pode ficar indiferente a esta realidade, e deveria, só para dar um exemplo, no quadro do QREN, sem esquecer os objectivos da inovação e da competitividade, dar atenção especial às PME. Começando por não repetir o que aconteceu com o ‘prime’ no QCA3, onde incentivos para as empresas (2000-06) na ordem dos 4 mil milhões de euros, apenas 1100 projectos/empresas (8% de 13.700) receberam mais de 50% dos incentivos! E os outros 92% de projectos, que eram de PME, receberam o restante!
Não basta constatar que há incerteza sobre o futuro. É preciso apontar caminhos e dar sinais que gerem confiança.
Vêm aí tempos difíceis. Importa ter consciência que ninguém, cidadãos, empresas, governo, vai conseguir fugir-lhes. "
Vitor Neto
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