sábado, junho 28, 2008

Central rosa laranja

"A ideia de uma “grande coligação” surge em função de um cenário de crise profunda a tocar a emergência nacional.

A política nacional é de fraca imaginação. A recente especulação sobre o Bloco Central é a confirmação do fracasso de Sócrates e a revelação de um PSD tímido e sem ambição. Primeiro, é a descrença de um Governo que não acredita na manutenção do poder. Segundo, é a descrença de uma oposição que não acredita no sucesso eleitoral. Neste momento político, a referência ao Bloco Central representa a estratégia da mediocridade centrada na imagem da derrota e do esgotamento político.

A ideia de uma “grande coligação” surge em função de um cenário de crise profunda a tocar a emergência nacional. Quando se procura um “largo consenso” para a concretização de um programa de opções inadiáveis, a “grande coligação” pode e deve ser objecto de discussão. Mas não é esta a tradição nacional. Em Portugal, o Bloco Central representa a claustrofobia política com vista à manutenção do status quo. À superfície, o Bloco Central confunde-se com a mera “aritmética dos lugares”. O Bloco Central é a política do compromisso que justifica todos os adiamentos e nunca a política do consenso que possibilita todas as reformas. O Bloco Central é a versão moderna da velha “política do pastel”, logo uma sombra dos erros passados e não a ideia ecuménica de um Governo futuro.

Se Sócrates se converteu à virtude da maioria absoluta, Manuela Ferreira Leite é a antítese do Bloco Central. Na sequência do último congresso, o PSD retoma o discurso e a postura do partido natural do poder. O PSD de Manuela Ferreira Leite apresenta-se como reserva da República e não directamente como alternativa política à governação socialista. A ambiguidade em termos da proposta do PSD explica-se pela aposta inicial num rotativismo político centrado no demérito do Governo de Sócrates. Actualmente, a oferta política do PSD coincide com a personalidade política de Manuela Ferreira Leite – experiência, seriedade e competência. Ao juntar a personalidade política do líder à postura do partido natural do poder, encontra-se a explicação para a ausência de uma proposta política mais profunda e concreta – o PSD está confiante de que os portugueses, na próxima oportunidade, vão corrigir a injustiça de terem despedido o PSD do Governo.

A preparação para o Governo implica uma análise do país, uma ideia para Portugal, uma agenda organizada e um conjunto coerente de políticas. Implica ainda uma conversação com os portugueses. E um módico de esperança. Não é prudente confiar a sorte do PSD à incompetência de Sócrates.
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Carlos Marques de Almeida

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