sexta-feira, junho 06, 2008

Crise do Petroleo - Anos 70

30 anos um grupo de ministros do Petróleo reuniu-se na Cidade do Kuwait para tomar uma decisão que abalou a política mundial e acendeu a crise de energia dos anos 70. Esse grupo continua a influenciar as questões ligadas à energia hoje, quando os tensos mercados do petróleo e do gás são um factor- chave na economia americana - e quando o significado estratégico do petróleo está, mais uma vez, evidente.

O embargo do petróleo em 1973 aconteceu quando foi sacada a "arma do petróleo árabe". Entrando em vigor um dia após a decisão de dobrar os preços, pretendeu punir os Estados Unidos, que forneciam armas a Israel.

Vários dias antes, os israelitas haviam sido atacados de surpresa. O embargo pretendia ainda pressionar o mundo ocidental a apoiar os árabes contra os Israel. Na época, o consumo de petróleo aumentava rapidamente.

Embora quase ninguém tivesse previsto essas reduções, houve avisos. De fato, durante a guerra entre árabes e israelitas, em 1967, alguns exportadores árabes tentaram impor um embargo, que fracassou porque havia muita capacidade extra de produção da qual se poderia lançar mão. Mas, em 1973, o mercado mundial tinha mudado; parecia que todos os poços do mundo produziam a plena capacidade, por causa do aquecimento da demanda. Os Estados Unidos tinham se tornado o maior importador mundial. E, dessa vez, não havia onde buscar petróleo extra.

O embargo criou pânico global. Compradores competiam furiosamente para obter o que conseguíssem, o que empurrou ainda mais os preços para cima. Nos Estados Unidos, a gravidade da coisa só foi plenamente compreendida pelos consumidores nas irritantes filas de abastecimento - longas esperas para obter quantidades limitadas de gasolina (na verdade, as filas foram resultado dos controles do governo que impediam a flexibilidade e acentuaram a escassez no mercado). Toda a ordem internacional parecia transformada.

Agora, a política era também sobre economia. No dia do embargo, o presidente Nixon afirmou: "Ninguém está mais profundamente consciente do que está em jogo: o petróleo e nossa posição estratégica." A avalanche de petrodólares para os exportadores transformou o "petropoder" em fato crucial da política internacional.

Na crise, os preços quadruplicaram; alguns anos mais tarde, com a revolução iraniana, eles dobraram. A crise do petróleo marcou o fim do surto de crescimento pós-guerra e muito contribuiu para que a década de 70 fosse a pior em termos económicos desde a Grande Depressão. E havia ainda o temor de uma escassez permanente de petróleo - havia quem imaginasse o preço do petróleo em US$ 100 por barril.

Nada disso aconteceu. Em menos de uma década, a "escassez permanente" converteu-se em superabundância, desencadeando um colapso no preço. Isso, entre outras coisas, apressou o fim da União Soviética, que mantinha as exportações de petróleo como salva-vidas para manter a economia viva.

Há muitas lições aqui. Os países que consideravam os suprimentos de energia favas contadas se deram conta, de repente, da importância de ofertas confiáveis a preços razoáveis para o bem-estar deles. O petróleo transformou-se em alta política e a energia virou parte da política pública.

Uma das lições menos óbvias mas mais duradouras é a de que os mercados funcionam, mesmo em circunstâncias dramáticas. A oferta e a demanda se ajustaram. Desde então, os Estados Unidos e outros países industrializados tornaram-se mais eficientes no uso do petróleo. Hoje em dia - apesar dos grandes utilitários desportivos - os EUA utilizam somente metade do petróleo por unidade de PIB do que usavam na década de 1970. Novas fontes de petróleo, não pertencentes à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), lideradas pelo Alasca e pelo Mar do Norte, entraram no fluxo rapidamente. E o mundo passou para outras fontes de energia.

Fica evidente agora que o ponto de partida para a garantia da energia é a diversificação de suprimentos - isto é, várias fontes de produção. Os Estados Unidos agora importam petróleo de um grande número de países; têm uma Reserva Estratégica de Petróleo como fonte de suprimento de último recurso e podem se organizar com outros países através da Agência Internacional de Energia.

A reacção à crise também demonstra o poder da tecnologia. Avanços tecnológicos resultaram em maior eficiência no consumo do petróleo e maior variedade de produção. A indústria petrolífera é capaz de grandes proezas - como fazer perfurações em águas ultraprofundas do Golfo do México -, algo simplesmente inconcebível nos anos 70.

Os exportadores aprenderam uma poderosa lição: o cliente tem importância.

Quando os preços subiram demais, os exportadores perderam uma parcela do mercado. Os clientes tinham escolhas. Depois do colapso dos preços, a maioria dos exportadores quis reconstruir a credibilidade como fornecedores confiáveis e tiraram a conotação política do petróleo. Os consumidores se preocupam com a garantia do suprimento e os produtores passaram a se preocupar com a garantia da demanda.

Será que estamos menos vulneráveis hoje do que éramos na década de 70? O petróleo ainda é uma commodity estratégica. E, num mercado tenso, mesmo sem os motivos políticos que levaram ao embargo de 1973, o mercado petrolífero é vulnerável a abalos e rupturas. É verdade que os mercados são flexíveis e podem se adaptar mais rapidamente, mas uma turbulência prolongada no Médio Oriente - ou em outras regiões produtoras de petróleo - poderá provocar novos abalos. Após a última reunião da OPEP, os preços do petróleo estão em torno de US$ 30 o barril. Tudo isso tem um impacto significativo sobre a economia mundial.

Em Novembro de 1973, Nixon anunciou o Projecto Independência, para tornar os Estados Unidos auto-suficientes em energia. Passados 30 anos, estamos ainda mais distantes dessa meta. Na época do embargo, os EUA importavam um terço do que necessitavam de petróleo; hoje, importam quase 60%.

Continuaremos a ouvir muito sobre a independência em energia, mas o verdadeiro desafio é como administrar nossa dependência por intermédio da diversificação, eficiência, progressos tecnológicos e a estabilidade das relações com um amplo leque de fornecedores.

2003 O Estado de São Paulo.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não me parece que os preços tenham a mesma causa do 1º choque.
A causa está em que depois da crise subprime e da bolha imobiliária, ainda por resolver, porque ainda não acabou, surgiu em pouco tempo uma nova bolha com origem exactamente no mesmo sítio.
Não discuto porque razão haveria de surgir no mesmo local, mas factos são factos.
O problema é que os especuladores que a criaram não são uns fulanos tipo toca e corre.
Estes são os chamados investidores institucionais, chamados(?) a investir na energia e nos mercados de commodities de que a energia faz parte.
Só que no caso, estes apostadores com o dinheiro dos outros,jogam o futuro das vidas de muitos milhões por esse mundo fora nos Estados unidos e Canadá incluidos, (espero que a CGD e outros não tenham jogado):
As reformas dos babyboomers, a geração que começará agora a receber aquilo a que terá direito.
Ora se aqueles em quem confiaram para lhes guardar e fazer crescer os seus planos de reforma, começaram a jogar no casino, (não será inocente, a previsão há meses de um banco que se enterrou no subprime, de que o barril de crude chegaria aos 200US$, provocando o despedimento de muitos gestores de topo, uns nababos que ainda atiram postas de pescada, ...temos um exemplar por cá); como dizia, começaram a jogar no casino e vão ter de engolir o papel porque ele não valerá nada ou muito pouco no futuro, ou nos futuros e assim esta gente verá acontecer-lhes o que sucedeu no caso Enron, só que a nível global.
O velho Soros avisou o congresso, quando lhe foi pedida opinião, será que foi ouvido pelos espertos do costume?
Veremos o que vai sair da reunião do clube Bilderberg, para o qual foram convidadas 2 personagens, segundo dizia uma notícia on line ontem, que rapidamente desapareceu.
Não acredito, mas que os há, há..

sexta-feira, junho 06, 2008  
Anonymous Anónimo said...

mais quais foram realmente os motivos que levaram a alta do petróleo em 1973?

domingo, outubro 17, 2010  

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