quarta-feira, setembro 24, 2008

Sem Carros

"O Dia sem Carros passou a ser em Portugal um dos maiores emblemas da hipocrisia política reinante.

No primeiro ano em que Portugal aderiu à iniciativa europeia toda a gente achou montes de graça à ideia: os ministros e os autarcas a andar de Metro, de eléctrico, de bicicleta, de trotineta, a pé, com as câmaras de televisão atrás. E o povo de quatro rodas também aderiu ao Carnaval. No segundo ano já ninguém achou graça: houve barreiras da polícia a delimitar as zonas sem trânsito que foram deitadas abaixo, buzinões e outros encontrões. O povinho que não se importa que lhe mexam nos direitos não gosta que lhe toquem no automóvel. De maneira que, a partir daí, o Dia sem Carros passou a ser com carros e tudo.

É assim a pedagogia da cidadania em Portugal. O poder é capaz de tirar as maternidades às futuras mães e mandá-las parir para Badajoz. Mas não toca no egoísmo dos que não abdicam de atafulhar as ruas e os passeios com latas topo de gama, de envenenar o ar que todos respiram. A questão é que as futuras mães de Portugal não representam qualquer grupo de interesses, para além dessa coisa desprezível que é o interesse do futuro do país. Ao passo que os automobilistas e os automóveis representam os interesses de uma indústria e de um comércio poderosos e contribuem generosamente para o imenso bolo do Estado.

De maneira que quando o Estado fala em Dia sem Carros certamente faz figas atrás das costas. Dias mesmo sem carros significaria dias sem Imposto sobre Produtos Petrolíferos mais IVA, Imposto Automóvel mais IVA. Já calcularam quanto vale para o Estado ter as ruas engarrafadas de trânsito e os cidadãos empestados com gases dos escapes? Dias sem carros? Antes sem pessoas
."

João Paulo Guerra

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