O 44.º PRESIDENTE
"Salvo eventual calamidade, Barack Obama será o próximo presidente dos EUA. O resultado ficou praticamente decidido no momento em que a crise económica assumiu as proporções actuais. A resposta de John McCain à crise apenas acentuou a tendência.
Até ao rebuliço em Wall Street, as "presidenciais" americanas dependiam de duas questões, ambas "raciais". Apesar da eloquência de Obama, quantos eleitores lhe recusariam o voto graças à cor da sua pele? Apesar do vazio retórico de Obama, quantos eleitores votariam nele pelo mesmo pretexto? Discriminatório ou paternalista, este racismo talvez escandalize os europeus, habituadíssimos a eleger governantes pretos, ciganos e astecas. Mas nos EUA ainda é um factor determinante.
Ou pelo menos foi determinante até a economia tomar conta da campanha. McCain, que herda a contragosto os problemas da Administração em funções, não aprecia nem domina o tema. Compreensível e (um tanto) injustamente, desatou a cair nas sondagens numa fase em que a queda costuma ser irremediável. Na falta de remédios, então, optou por medidas desesperadas: cancelar a campanha; correr para Washington a fim de salvar o plano de salvação nacional; adiar o debate televisivo com o adversário.
Às vezes, o desespero funciona, e havia uma possibilidade de que o gesto dramático de McCain fosse entendido a título de abnegação "suprapartidária" e patriótica. Era uma possibilidade remota. Na verdade, a maioria dos cidadãos entendeu a estratégia enquanto estratégia, e McCain não teve saída além de um vexatório retrocesso ao ponto de partida: retomou a campanha, deixou a capital sem salvar coisa nenhuma, compareceu no debate.
Chamar ao debate uma série de monólogos insípidos já é um lugar-comum. É, igualmente, uma definição adequada. Ninguém venceu, o que equivale a dizer que McCain, necessitado de um milagre, perdeu, o debate e o resto. Tenho pena. Pelo extraordinário currículo e pelo original carácter, McCain provavelmente merecia a Casa Branca mais do que qualquer outro nome que me ocorra. As circunstâncias, algum azar e, convenhamos, o carácter retiraram-lhe essa hipótese. A menos que, repito, haja uma calamidade. Ou que eu me engane. Se for erro de previsão, cá estarei a admiti-lo. E a festejá-lo. "
Alberto Gonçalves
Até ao rebuliço em Wall Street, as "presidenciais" americanas dependiam de duas questões, ambas "raciais". Apesar da eloquência de Obama, quantos eleitores lhe recusariam o voto graças à cor da sua pele? Apesar do vazio retórico de Obama, quantos eleitores votariam nele pelo mesmo pretexto? Discriminatório ou paternalista, este racismo talvez escandalize os europeus, habituadíssimos a eleger governantes pretos, ciganos e astecas. Mas nos EUA ainda é um factor determinante.
Ou pelo menos foi determinante até a economia tomar conta da campanha. McCain, que herda a contragosto os problemas da Administração em funções, não aprecia nem domina o tema. Compreensível e (um tanto) injustamente, desatou a cair nas sondagens numa fase em que a queda costuma ser irremediável. Na falta de remédios, então, optou por medidas desesperadas: cancelar a campanha; correr para Washington a fim de salvar o plano de salvação nacional; adiar o debate televisivo com o adversário.
Às vezes, o desespero funciona, e havia uma possibilidade de que o gesto dramático de McCain fosse entendido a título de abnegação "suprapartidária" e patriótica. Era uma possibilidade remota. Na verdade, a maioria dos cidadãos entendeu a estratégia enquanto estratégia, e McCain não teve saída além de um vexatório retrocesso ao ponto de partida: retomou a campanha, deixou a capital sem salvar coisa nenhuma, compareceu no debate.
Chamar ao debate uma série de monólogos insípidos já é um lugar-comum. É, igualmente, uma definição adequada. Ninguém venceu, o que equivale a dizer que McCain, necessitado de um milagre, perdeu, o debate e o resto. Tenho pena. Pelo extraordinário currículo e pelo original carácter, McCain provavelmente merecia a Casa Branca mais do que qualquer outro nome que me ocorra. As circunstâncias, algum azar e, convenhamos, o carácter retiraram-lhe essa hipótese. A menos que, repito, haja uma calamidade. Ou que eu me engane. Se for erro de previsão, cá estarei a admiti-lo. E a festejá-lo. "
Alberto Gonçalves
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