segunda-feira, abril 27, 2009

A entrevista do sr. eng. (I)

"Interessa-me pouco, ou nada, o que o sr. eng. disse na entrevista à RTP. Interessante foi o modo como o disse: com o sobrolho carregado, a pronta ameaça de reprimenda e o genérico ar de "você-sabe-com-quem-é-que-está-a-falar?" sempre que os jornalistas tentavam interrompê-lo. É verdade que às vezes sorriu, mas apenas quando os jornalistas, proverbialmente brandos, o deixaram ler papéis pequeninos com números ilustrativos do sucesso do Governo, tão brilhante que preparou Portugal para a crise "internacional", apesar de a crise "internacional" ser demasiado intensa para o brilhantismo do Governo (ou o inverso, não percebi bem). É verdade que às vezes simulou espanto e candura, mas apenas quando os jornalistas o convidaram ao tema "Cavaco". É verdade que às vezes optou pelo sentimento e expôs mágoas interiores, mas apenas quando os jornalistas lhe deram rédea solta para falar do Freeport. A impaciência, porém, sobrepôs-se a tudo.

Muito mais do que o discurso, de uma pobreza merecedora de uma queixa-crime, a atitude do sr. eng. mostra claramente o país que ele gostaria de construir: uma coisa flácida e cerimoniosa perante a grandeza do líder, onde o contraditório é tomado à conta de injúria pessoal e devidamente punido. Além de lamentar a sucessão de infortúnios que enfiou tamanhas pretensões na cabeça do homem, compete ao país impedir que as pretensões saiam de lá. Isto se o país discordar delas, o que, a julgar pelos costumes caseiros, não está garantido
. "

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Aquilo que acho mais escabroso e indigno de um velho país civilizado e europeu, trinta e cinco anos após o 25 de Abril, é esta forma “socrática” de fazer política para os telejornais. Vejamos o exemplo de hoje da EN-125 no Algarve: o sr. primeiro-ministro, no termo de quatro anos e meio de governo, sem praticamente nenhuma obra consensual para apresentar, desloca-se ao Algarve com vários ministros e secretários de Estado às costas para mais um anúncio (um mero anúncio) de uma obra “de requalificação”. Esse anúncio, tardio, feito a seis semanas de eleições, é objecto de uma cerimónia ultrajante pelo luxo, pelo deboche de meios, pelas promessas colaterais (“vão ser criados milhares de empregos”, foi dito), pela exibição de filmes caríssimos “projectando” um admirável mundo novo… E ninguém se indigna, ninguém se espanta. Na Suécia, na Finlândia, em França, em Inglaterra, na própria Espanha, será que é assim que se anuncia uma requalificação de uma estrada a poucas semanas de eleições? Quanto custou a cerimónia (filmes incluídos)? Os 500 mil euros mencionados há poucos meses para cerimónias similares? Para que serviu este deboche de meios? O que pensa a Comissão Nacional de Eleições? Não pensa nada? É isto, o espírito democrático de Abril? Isto, mais a promessa do “engenheiro” Sócrates de dar proximamente um saltinho matinal ao programa do Manuel Luís Goucha para ganhar novo tempo de antena gratuito? Que país é este, senhor director?

segunda-feira, abril 27, 2009  

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