Um encontro que urge ser entre iguais
"Um dia, anos 90, em Bogotá, assisti a uma conferência de imprensa do embaixador americano num aeroporto militar colombiano. Os Estados Unidos ofereciam uns aviões para combater as plantações de droga e foi sobre eles que o embaixador teve palavras protocolares e gerais. A maioria dos jornalistas eram colombianos, havia vários americanos, um francês e eu. As palavras vagas tendo sido ditas, o embaixador informou que se seguia um período de perguntas e respostas e, por isso, pedia aos jornalistas colombianos para sair. Passou--se em Bogotá e dentro de um aeroporto militar colombiano.
Nesse dia, entendi bem as palavras de Porfirio Díaz, general e Presidente mexicano: "Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos." A vida política de Díaz tem mais de 100 anos (ele morreu no exílio, em 1915, e está enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris), mas outra frase célebre, mais recente e dita por quem a disse, ilustra essa vizinhança que faz com que os Estados Unidos sejam um adorável Dr. Jekyll, em casa, e um detestável Mr. Hide para toda essa América (do Sul, Central e até do Norte, como o México) que lhe fazem de suporte. A frase foi sobre um dos piores ditadores do continente americano, Anastacio Somoza, da Nicarágua, e foi dita para o proteger: "Ele é um filho da puta, mas é o nosso filho da puta." E quem a disse foi Franklin Delano Roosevelt, o grande Presidente que arrancou a América da Grande Depressão, a liderou durante a II Guerra Mundial, combatendo os fascismos, e que é um dos pais inspiradores de Barack Obama.
As frases valem o que valem, mas por mais que a sociedade americana fascine os seus vizinhos do Sul e que, nestes, as ilusões comunistas já não tenham a cotação que alcançaram nas décadas de 60 e 70, a verdade é que os Estados Unidos continuaram a agir no seu hemisfério com soberba. Em conversa com amigos latino-americanos, quando me luzem nos olhos admirações pelos Estados Unidos (o que me é bastante comum), quantas vezes dei-me conta da síndroma Alberto João. Vocês sabem, é achar graça a Jardim e ouvir de um madeirense: "Isso és tu que não o tens à perna todos os dias..."
Ontem, na Cimeira das Américas, Hugo Chávez, um Presidente pantomineiro cujo fundo de comércio muito deve ao antiamericanismo, ofereceu um livro a Obama. Mais tarde, Obama brincou: "Pensei que era um livro dele e ainda pensei dar-lhe um dos meus." O livro era "As Veias Abertas da América Latina", do uruguaio Eduardo Galeano. É um mau livro, propagandista (Galeano é muito melhor a escrever sobre futebol, o que faz maravilhosamente), mas Obama que tire partido do título. O que as Américas precisam é de transfusões de igualdade."
Ferreira Fernandes
Nesse dia, entendi bem as palavras de Porfirio Díaz, general e Presidente mexicano: "Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos." A vida política de Díaz tem mais de 100 anos (ele morreu no exílio, em 1915, e está enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris), mas outra frase célebre, mais recente e dita por quem a disse, ilustra essa vizinhança que faz com que os Estados Unidos sejam um adorável Dr. Jekyll, em casa, e um detestável Mr. Hide para toda essa América (do Sul, Central e até do Norte, como o México) que lhe fazem de suporte. A frase foi sobre um dos piores ditadores do continente americano, Anastacio Somoza, da Nicarágua, e foi dita para o proteger: "Ele é um filho da puta, mas é o nosso filho da puta." E quem a disse foi Franklin Delano Roosevelt, o grande Presidente que arrancou a América da Grande Depressão, a liderou durante a II Guerra Mundial, combatendo os fascismos, e que é um dos pais inspiradores de Barack Obama.
As frases valem o que valem, mas por mais que a sociedade americana fascine os seus vizinhos do Sul e que, nestes, as ilusões comunistas já não tenham a cotação que alcançaram nas décadas de 60 e 70, a verdade é que os Estados Unidos continuaram a agir no seu hemisfério com soberba. Em conversa com amigos latino-americanos, quando me luzem nos olhos admirações pelos Estados Unidos (o que me é bastante comum), quantas vezes dei-me conta da síndroma Alberto João. Vocês sabem, é achar graça a Jardim e ouvir de um madeirense: "Isso és tu que não o tens à perna todos os dias..."
Ontem, na Cimeira das Américas, Hugo Chávez, um Presidente pantomineiro cujo fundo de comércio muito deve ao antiamericanismo, ofereceu um livro a Obama. Mais tarde, Obama brincou: "Pensei que era um livro dele e ainda pensei dar-lhe um dos meus." O livro era "As Veias Abertas da América Latina", do uruguaio Eduardo Galeano. É um mau livro, propagandista (Galeano é muito melhor a escrever sobre futebol, o que faz maravilhosamente), mas Obama que tire partido do título. O que as Américas precisam é de transfusões de igualdade."
Ferreira Fernandes
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