Qualidade e salários da classe política
"O problema dos ordenados da classe política é de difícil discussão. Num país onde o salário mínimo nacional não atinge sequer os 500 euros soa muito mal a boa parte da opinião pública defender que os autarcas, os deputados, os ministros ou até mesmo o primeiro- -ministro e o presidente da República devem receber mais. Afinal, dirá a vox populi, José Sócrates ganha mais de cinco mil euros, Aníbal Cavaco Silva perto de sete mil.
Mas baixos salários para a classe política significam menor qualidade. Com muitas empresas a oferecerem aos seus quadros de topo remunerações acima dos 15 mil euros, e em certos casos bem mais do que isso, uma carreira política não se afigura atractiva para quem tem de pesar entre a qualidade de vida pessoal e o serviço público. E não vale a pena argumentar que servir a sociedade é já paga suficiente - o primeiro presidente americano exigiu um salário, logo no século XVIII. George Washington era abastado, mas os sucessores poderiam não o ser, e assim garantiu que nem só os ricos poderiam ocupar cargos políticos.
Contra os populismos vale também a pena notar que se há quem ganhe bem na política, e sobretudo quando a abandona, há também quem perca dinheiro por optar pela vida pública. O DN fala hoje dos pareceres pagos a peso de ouro que muitos juristas assinam. Vital Moreira é um deles. Mas o catedrático de Coimbra, cabeça de lista do PS às eleições europeias, vai perder dinheiro com a sua passagem por Estrasburgo. E sem garantias de algum dia recuperar, em termos económicos, o que deixará de ganhar enquanto estiver no Parlamento Europeu.
A guarda-se para breve a decisão oficial sobre o destino a dar ao Banco Privado Português (BPP). É o tipo de iniciativa política que geralmente se toma ao fim da semana com os mercados já fechados. O tempo de reflexão parece continuar a ser bom conselheiro para quem tem cativas as suas poupanças, sobretudo as de retorno absoluto.
O dilema do Governo não é fácil de resolver: viabilizar o BPP significa recapitalizá-lo, com novas garantias do Estado e possível entrada de dinheiros públicos, o que provocará a ira de quem acha que já se gastou demasiado dinheiro com quem não o merecia.
Não o fazer, devido ao carácter controverso da relação do banco com alguns dos seus clientes, é condená-lo à falência, com custos financeiros directos na sua liquidação, mais os indirectos, que só podem ser adivinhados.
O que está em causa é um ambiente de redobrada desconfiança de tudo o que passe por decisões de banqueiros. Mesmo quando se trata de uma instituição bancária de pequena dimensão, ou de uma caixa agrícola local, de peso diminuto, o seu fecho pode provocar as reacções mais inesperadas em outros pontos do nosso sistema financeiro. É esse o dilema. Estando na posição de decidir, quem assumiria o risco de uma reacção em cadeia de dimensão desconhecida? Mas este risco também não pode justificar tudo, sob pena de dar origem a outros riscos."
Mas baixos salários para a classe política significam menor qualidade. Com muitas empresas a oferecerem aos seus quadros de topo remunerações acima dos 15 mil euros, e em certos casos bem mais do que isso, uma carreira política não se afigura atractiva para quem tem de pesar entre a qualidade de vida pessoal e o serviço público. E não vale a pena argumentar que servir a sociedade é já paga suficiente - o primeiro presidente americano exigiu um salário, logo no século XVIII. George Washington era abastado, mas os sucessores poderiam não o ser, e assim garantiu que nem só os ricos poderiam ocupar cargos políticos.
Contra os populismos vale também a pena notar que se há quem ganhe bem na política, e sobretudo quando a abandona, há também quem perca dinheiro por optar pela vida pública. O DN fala hoje dos pareceres pagos a peso de ouro que muitos juristas assinam. Vital Moreira é um deles. Mas o catedrático de Coimbra, cabeça de lista do PS às eleições europeias, vai perder dinheiro com a sua passagem por Estrasburgo. E sem garantias de algum dia recuperar, em termos económicos, o que deixará de ganhar enquanto estiver no Parlamento Europeu.
A guarda-se para breve a decisão oficial sobre o destino a dar ao Banco Privado Português (BPP). É o tipo de iniciativa política que geralmente se toma ao fim da semana com os mercados já fechados. O tempo de reflexão parece continuar a ser bom conselheiro para quem tem cativas as suas poupanças, sobretudo as de retorno absoluto.
O dilema do Governo não é fácil de resolver: viabilizar o BPP significa recapitalizá-lo, com novas garantias do Estado e possível entrada de dinheiros públicos, o que provocará a ira de quem acha que já se gastou demasiado dinheiro com quem não o merecia.
Não o fazer, devido ao carácter controverso da relação do banco com alguns dos seus clientes, é condená-lo à falência, com custos financeiros directos na sua liquidação, mais os indirectos, que só podem ser adivinhados.
O que está em causa é um ambiente de redobrada desconfiança de tudo o que passe por decisões de banqueiros. Mesmo quando se trata de uma instituição bancária de pequena dimensão, ou de uma caixa agrícola local, de peso diminuto, o seu fecho pode provocar as reacções mais inesperadas em outros pontos do nosso sistema financeiro. É esse o dilema. Estando na posição de decidir, quem assumiria o risco de uma reacção em cadeia de dimensão desconhecida? Mas este risco também não pode justificar tudo, sob pena de dar origem a outros riscos."
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home