BE: crise de crescimento
"No BE pode haver quem não pense como Louçã, quem não tenha o mesmo espírito missionário e não esteja disposto a a fazer parte de um partido para o qual o orgasmo político se atinge.. na Oposição.
Possivelmente, a esquerda que se revê no Bloco de Esquerda não deixou ainda de comemorar a dupla vitória de domingo - em que subiu mais uns pontos e ultrapassou o próprio PCP. Vão longe os tempos em que Álvaro Cunhal desdenhava dos partidos à sua esquerda, uns "grupúsculos de extrema-esquerda". Hoje, eles chegaram-se à frente e saíram das Europeias como terceira força eleitoral e com vastas razões para comemorar.
Mas também eles - e não só o derrotado PS - têm uma longa reflexão a fazer sobre o futuro. Louçã, na semana que finda agora, aproveitou praticamente todas as ocasiões para repetir que com o PS não haverá acordos. Não se ouve ao BE uma única afirmação do estilo "se nós fôssemos Governo". Pelo contrário: essa é uma hipótese de que o Bloco foge a sete pés. Até ao transe, o BE procurará manter a postura de partido atento à realidade, capaz de distinguir o que faz o eleitorado reagir e sempre pronto ao papel de apontar o dedo, não falhar um único erro e esmiuçá-lo em profundidade, não para apresentar solução melhor, mas para ridicularizar, enfraquecer o pai da ideia.
As ideias no Bloco são para desfazer as ideias dos outros. A toada é sempre bem disposta, tem graça, é directa e é certeira. Tem boa Imprensa e dá votos. Sempre mais, porque é fácil ver engrossar o rol dos que deixam de acreditar e alinham ao lado dos que denunciam a situação.
Mas os dirigentes do Bloco estão obrigados a uma longa reflexão, porque o número de votos que conseguiram obriga a que o partido encare o Poder como uma possibilidade, sob pena de os seus apoiantes se cansarem de dar um voto apenas para a denúncia. Esses mesmos, os que têm engrossado a fileira eleitoral do BE, esses mesmos que nada têm a ver com o PSR, a UDP ou a Política XXI que geraram o BE, acabarão por obrigar o partido a "sujar as mãos" em propostas de solução, em políticas de poder, deixando que outros mais pequenos façam o contra-poder. Francisco Louçã terá, certamente, um grande gozo - até pessoal - por ter passado os comunistas e ter acedido ao clube das duas décimas. Mas ele saberá também que não poderá repetir muito mais vezes que não está interessado no Poder e que de forma alguma fará alianças com o PS. Com os resultados de domingo passado, o BE entra numa crise de crescimento - uma crise boa, dirão os seus dirigentes. E numa crise de crescimento pode haver quem não pense como Francisco Louçã, quem não tenha o mesmo espírito missionário e não esteja disposto a fazer parte de um partido para o qual o orgasmo político se atinge… na Oposição. Não tarda, haverá no BE quem queira ser Poder. Com ou sem Francisco Louçã. "
José Leite Pereira
Possivelmente, a esquerda que se revê no Bloco de Esquerda não deixou ainda de comemorar a dupla vitória de domingo - em que subiu mais uns pontos e ultrapassou o próprio PCP. Vão longe os tempos em que Álvaro Cunhal desdenhava dos partidos à sua esquerda, uns "grupúsculos de extrema-esquerda". Hoje, eles chegaram-se à frente e saíram das Europeias como terceira força eleitoral e com vastas razões para comemorar.
Mas também eles - e não só o derrotado PS - têm uma longa reflexão a fazer sobre o futuro. Louçã, na semana que finda agora, aproveitou praticamente todas as ocasiões para repetir que com o PS não haverá acordos. Não se ouve ao BE uma única afirmação do estilo "se nós fôssemos Governo". Pelo contrário: essa é uma hipótese de que o Bloco foge a sete pés. Até ao transe, o BE procurará manter a postura de partido atento à realidade, capaz de distinguir o que faz o eleitorado reagir e sempre pronto ao papel de apontar o dedo, não falhar um único erro e esmiuçá-lo em profundidade, não para apresentar solução melhor, mas para ridicularizar, enfraquecer o pai da ideia.
As ideias no Bloco são para desfazer as ideias dos outros. A toada é sempre bem disposta, tem graça, é directa e é certeira. Tem boa Imprensa e dá votos. Sempre mais, porque é fácil ver engrossar o rol dos que deixam de acreditar e alinham ao lado dos que denunciam a situação.
Mas os dirigentes do Bloco estão obrigados a uma longa reflexão, porque o número de votos que conseguiram obriga a que o partido encare o Poder como uma possibilidade, sob pena de os seus apoiantes se cansarem de dar um voto apenas para a denúncia. Esses mesmos, os que têm engrossado a fileira eleitoral do BE, esses mesmos que nada têm a ver com o PSR, a UDP ou a Política XXI que geraram o BE, acabarão por obrigar o partido a "sujar as mãos" em propostas de solução, em políticas de poder, deixando que outros mais pequenos façam o contra-poder. Francisco Louçã terá, certamente, um grande gozo - até pessoal - por ter passado os comunistas e ter acedido ao clube das duas décimas. Mas ele saberá também que não poderá repetir muito mais vezes que não está interessado no Poder e que de forma alguma fará alianças com o PS. Com os resultados de domingo passado, o BE entra numa crise de crescimento - uma crise boa, dirão os seus dirigentes. E numa crise de crescimento pode haver quem não pense como Francisco Louçã, quem não tenha o mesmo espírito missionário e não esteja disposto a fazer parte de um partido para o qual o orgasmo político se atinge… na Oposição. Não tarda, haverá no BE quem queira ser Poder. Com ou sem Francisco Louçã. "
José Leite Pereira
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