O amor que ousa dizer o seu 'status'
"Quando, nos idos de 1970, Truman Capote passeou o novo namorado pelos palazzos e iates do jet-set internacional, a reacção foi de horror. Não, claro, porque Capote se relacionasse sexualmente com homens, mas porque este homem em particular era um simples técnico de ar condicionado, incontáveis degraus abaixo dos círculos em que o escritor se movia. Escandalizados, os liberalíssimos círculos dedicaram ao sujeito, de poucas letras e falas, absoluto desprezo, além dos epítetos de "primitivo" e "selvagem".
O progressismo nos costumes não anula a repugnância social, pormenor que Capote, aliás sulista, rural e uma espécie curiosa de conservador, aprendeu à custa de diversas amizades perdidas.
Salvo as devidas distâncias, o episódio vem a propósito do urgente "Manifesto pela igualdade no acesso ao casamento civil". A fim de estarrecer os pasmados, um dos seus primeiros mil subscritores explica que o "Manifesto" em questão, apresentado num cinema de Lisboa, reúne "pessoas de todas as profissões". E depois passa a enumerá-las: escritores, poetas, ficcionistas, ensaístas, críticos, artistas plásticos, fotógrafos, cineastas, músicos, actores, médicos, advogados, apresentadores de televisão, arquitectos, pediatras, deputados, sociólogos, jornalistas, magistrados, antropólogos, investigadores, bloggers"(?), humoristas, politólogos, psicólogos, curadores de museu, colunistas, galeristas, encenadores, etc.
Embora conheça meia dúzia das "personalidades" envolvidas e respeite duas ou três, surpreendi-me face às dimensões do universo em se movem os gays e os activistas da "causa": altos quadros do Estado, artistas (com ou sem aspas), empresários da cultura (idem), figuras do espectáculo, académicos, líricos e similares. É, parece-me, um universo pequenino, que cabe em duas ruas do Chiado e não cede espaço a cantoneiros, repositores de supermercado, camionistas, escriturários e técnicos de ar condicionado.
Dado não ser plausível que, à semelhança do Irão, tão vulgares ofícios não tenham homossexuais nem simpatizantes, era aconselhável que os autores do "Manifesto" fossem menos discriminatórios no combate à discriminação. Assim, arriscam-se a passar a desagradável impressão de que os direitos das minorias sexuais não os preocupam tanto quanto os privilégios das elites profissionais. E que a louvável luta pelo casamento gay não é muito mais que um pretexto para juntar compinchas, entreter ócios, alimentar egos e servir estratégias partidárias. O que seria profundamente injusto. "
Alberto Gonçalves
O progressismo nos costumes não anula a repugnância social, pormenor que Capote, aliás sulista, rural e uma espécie curiosa de conservador, aprendeu à custa de diversas amizades perdidas.
Salvo as devidas distâncias, o episódio vem a propósito do urgente "Manifesto pela igualdade no acesso ao casamento civil". A fim de estarrecer os pasmados, um dos seus primeiros mil subscritores explica que o "Manifesto" em questão, apresentado num cinema de Lisboa, reúne "pessoas de todas as profissões". E depois passa a enumerá-las: escritores, poetas, ficcionistas, ensaístas, críticos, artistas plásticos, fotógrafos, cineastas, músicos, actores, médicos, advogados, apresentadores de televisão, arquitectos, pediatras, deputados, sociólogos, jornalistas, magistrados, antropólogos, investigadores, bloggers"(?), humoristas, politólogos, psicólogos, curadores de museu, colunistas, galeristas, encenadores, etc.
Embora conheça meia dúzia das "personalidades" envolvidas e respeite duas ou três, surpreendi-me face às dimensões do universo em se movem os gays e os activistas da "causa": altos quadros do Estado, artistas (com ou sem aspas), empresários da cultura (idem), figuras do espectáculo, académicos, líricos e similares. É, parece-me, um universo pequenino, que cabe em duas ruas do Chiado e não cede espaço a cantoneiros, repositores de supermercado, camionistas, escriturários e técnicos de ar condicionado.
Dado não ser plausível que, à semelhança do Irão, tão vulgares ofícios não tenham homossexuais nem simpatizantes, era aconselhável que os autores do "Manifesto" fossem menos discriminatórios no combate à discriminação. Assim, arriscam-se a passar a desagradável impressão de que os direitos das minorias sexuais não os preocupam tanto quanto os privilégios das elites profissionais. E que a louvável luta pelo casamento gay não é muito mais que um pretexto para juntar compinchas, entreter ócios, alimentar egos e servir estratégias partidárias. O que seria profundamente injusto. "
Alberto Gonçalves
1 Comments:
Fico satisfeito por ver que no meio dessa paneleiragem toda não aparece gente trabalhadora
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