Ninguém pára o Coelho, ôéô
"A vitória do PS faz bem às construtoras. Mas a nenhuma faz tão bem como à Mota-Engil, a construtora mundial que mais sobe em bolsa entre 151 do índice Bloomberg. Se António Mota não financiou as campanhas do PS é um ingrato.
Não é insinuação política, é análise financeira. Todos os analistas foram dizendo que as acções da Mota dependiam da vitória do PS, qualificando-a como gatilho para um disparo que se verificaria com a precisão de um metrónomo: no exacto compasso da proximidade da vitória socialista nas legislativas. Desde que as sondagens o anunciaram, as acções subiram 30%.
O ano tem-lhes sido bom: com o PS há muita obra pública em Portugal; há negócio em Angola e haverá no Brasil; e 2008 havia sido péssimo. As acções da Mota, Soares da Costa e Teixeira Duarte dispararam no último mês. Mas as da Mota subiram duas e três vezes mais.
A Mota é uma grande empresa, ambiciosa e bem gerida. Quando Jorge Coelho foi contratado, vai para ano e meio, a polémica dos políticos anfíbios foi revisitada. Não estava em causa o período de nojo (passavam sete anos desde que saíra do Ministério das Obras Públicas) mas sim a suspeita de promiscuidade com o partido do poder. Coelho não vale pelos contratos, vale pelos contactos. E também nas empresas, quem se mete com o PS, leva. Leva negócios.
Coelho pegou numa Mota-Engil sobre-endividada, desvalorizada e desfocada. A questão era então como capitalizar uma empresa com operações a mais em países demais. Neste tempo, Coelho fechou operações e colocou a empresa na peugada das grandes obras públicas em Portugal: as estradas (onde já ganhou uma concessão), o TGV (onde concorre contra os mais baratos espanhóis da FCC), o novo aeroporto (onde se aguarda novo ministro para retomar).
Havia, ademais, uma pedra no meio do caminho onde Estado e privados se encontram: a introdução das portagens nas Scut. É um tema difícil, que só António Mexia e Santana Lopes até hoje enfrentaram sem rodeios, mas em que a própria Ferreira Leite recuou, quando nesta campanha passou de liderante a delirante.
O custo das Scut para o Estado é incomportável. Também o PS incluíra portagens no programa eleitoral de... 2005. Desde aí que se esperava para se saber em que termos o Estado compensaria os privados na renegociação dos contratos.
Soube-se ontem. Num anúncio do ministério? Num comunicado da empresa à CMVM? Não: por acaso, num boletim da Direcção-Geral do Tesouro. E que diz o comunicado? Que as concessionárias serão compensadas pelo Estado não em função do tráfego mas da disponibilidade. Ou seja, não por causa da procura mas da oferta. Ou seja, o Estado assume o risco de tráfego. Ou seja, as acções da Mota subiam a meio do dia mais 4%.
Cinco meses de campanhas eleitorais produziram uma estranha insensibilidade ao escândalo. No dia a seguir às legislativas, a TVI foi vendida a um accionista da PT, financiado pela PT, sem clamor. Um dia depois das autárquicas, sabe-se do acordo para as Scut.
Ao contrário do que pretendia quem perdeu em Felgueiras e no Marco e do que insinua quem ganhou em Gondomar e em Oeiras, vencer eleições não é um biombo moral. Um resultado eleitoral pode ser choque vitamínico para muitos negócios mas não pode ser "doping" para algumas negociatas. O utilizador-pagador é um bom princípio. Mas que não seja o princípio do tempo do eleitor trouxa."
Pedro Santos Guerreiro
Não é insinuação política, é análise financeira. Todos os analistas foram dizendo que as acções da Mota dependiam da vitória do PS, qualificando-a como gatilho para um disparo que se verificaria com a precisão de um metrónomo: no exacto compasso da proximidade da vitória socialista nas legislativas. Desde que as sondagens o anunciaram, as acções subiram 30%.
O ano tem-lhes sido bom: com o PS há muita obra pública em Portugal; há negócio em Angola e haverá no Brasil; e 2008 havia sido péssimo. As acções da Mota, Soares da Costa e Teixeira Duarte dispararam no último mês. Mas as da Mota subiram duas e três vezes mais.
A Mota é uma grande empresa, ambiciosa e bem gerida. Quando Jorge Coelho foi contratado, vai para ano e meio, a polémica dos políticos anfíbios foi revisitada. Não estava em causa o período de nojo (passavam sete anos desde que saíra do Ministério das Obras Públicas) mas sim a suspeita de promiscuidade com o partido do poder. Coelho não vale pelos contratos, vale pelos contactos. E também nas empresas, quem se mete com o PS, leva. Leva negócios.
Coelho pegou numa Mota-Engil sobre-endividada, desvalorizada e desfocada. A questão era então como capitalizar uma empresa com operações a mais em países demais. Neste tempo, Coelho fechou operações e colocou a empresa na peugada das grandes obras públicas em Portugal: as estradas (onde já ganhou uma concessão), o TGV (onde concorre contra os mais baratos espanhóis da FCC), o novo aeroporto (onde se aguarda novo ministro para retomar).
Havia, ademais, uma pedra no meio do caminho onde Estado e privados se encontram: a introdução das portagens nas Scut. É um tema difícil, que só António Mexia e Santana Lopes até hoje enfrentaram sem rodeios, mas em que a própria Ferreira Leite recuou, quando nesta campanha passou de liderante a delirante.
O custo das Scut para o Estado é incomportável. Também o PS incluíra portagens no programa eleitoral de... 2005. Desde aí que se esperava para se saber em que termos o Estado compensaria os privados na renegociação dos contratos.
Soube-se ontem. Num anúncio do ministério? Num comunicado da empresa à CMVM? Não: por acaso, num boletim da Direcção-Geral do Tesouro. E que diz o comunicado? Que as concessionárias serão compensadas pelo Estado não em função do tráfego mas da disponibilidade. Ou seja, não por causa da procura mas da oferta. Ou seja, o Estado assume o risco de tráfego. Ou seja, as acções da Mota subiam a meio do dia mais 4%.
Cinco meses de campanhas eleitorais produziram uma estranha insensibilidade ao escândalo. No dia a seguir às legislativas, a TVI foi vendida a um accionista da PT, financiado pela PT, sem clamor. Um dia depois das autárquicas, sabe-se do acordo para as Scut.
Ao contrário do que pretendia quem perdeu em Felgueiras e no Marco e do que insinua quem ganhou em Gondomar e em Oeiras, vencer eleições não é um biombo moral. Um resultado eleitoral pode ser choque vitamínico para muitos negócios mas não pode ser "doping" para algumas negociatas. O utilizador-pagador é um bom princípio. Mas que não seja o princípio do tempo do eleitor trouxa."
Pedro Santos Guerreiro
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