A máscara do Zorro
"Por detrás da máscara do Zorro estava a alma da Justiça. Como todos os bons heróis, teve de se disfarçar para conseguir que o bem vencesse o mal. Não ficou só: quase sempre a Justiça teve de se disfarçar para conseguir parar os que têm da moral e da ética um conceito muito vago. É curioso como a Justiça, hoje em dia, passado o mundo da ficção onde Batman ou o Fantasma evoluíam, tem de continuar a mascarar-se. O fascinante caso "Face Oculta" mostra como a Justiça se tornou um jogo de bastidores, um rendilhado de poderes de casta, um discurso feito para dentro, e não para a sociedade. A pose do presidente do Supremo Tribunal de Justiça e a sua difícil relação com as palavras claras são o símbolo de um novo tipo de Justiça. Aquele que já não tem nada a ver com o que se passa na sociedade e que vive fechado numa daquelas torres que povoam o mundo de Tolkien. A Justiça vive hoje no círculo do poder que já não tem a ver com o mundo real. Alimenta-se dum mundo burocrático, onde as regras são mais importantes do que os acontecimentos. O mundo do presidente do STJ é uma bola de cristal de vírgulas, prazos e parágrafos. Pouco tem a ver com a Justiça, como os pobres terrenos esperam das sumidades que criaram leis que já ninguém entende. Quem domina o poder do léxico tem as rédeas da Justiça em Portugal. E é por isso que ela, hoje, é o mata-borrão das esperanças da sociedade portuguesa. O mundo de Noronha do Nascimento é semelhante ao do Senhor dos Anéis, onde os Hobbits são desconhecidos. "
Fernando Sobral
Fernando Sobral
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