quarta-feira, dezembro 30, 2009

Elogio da ingovernabilidade

"Ao longo de quatro anos e meio, aprendemos como governa o PS em maioria parlamentar: com arrogância e maus modos. "Habituem-se", preveniu no início da anterior legislatura o dr. Vitorino. E não tivemos outro remédio. Na legislatura vigente, estamos a habituar-nos ao estilo do PS quando não manda no parlamento: histérico e choramingas. Sendo um espectáculo diferente, é igualmente arrebatador. Sobretudo por exibir protagonistas tão prestigiados quanto um dr. Ricardo Rodrigues, que um juiz garante ter pertencido a um "gang internacional", e um dr. Sousa Pinto, que nem isso.

A oposição não acolhe com reverência e pasmo cada prodigiosa medida socialista? O PS queixa-se de "deslealdade" e diz que assim não é possível. Cavaco Silva confessa-se preocupado com a economia? O PS queixa-se de "intromissão" e amua. Não tardará que o PS faça beicinho e birra a propósito do fracasso de Copenhaga, suspenda a respiração por causa da crise do Sporting e arranque cabelos sob o argumento da chuva que não passa. Por este andar, de guincho em guincho a aprovação do casamento "gay" arrisca-se a ser a atitude menos amaricada do XVIII Governo constitucional.

Ignoro se, por culpa do Parlamento, de Cavaco, de Copenhaga ou do Sporting, o Governo de facto não consegue governar. Certo é que, entretido a lamentar-se, o Governo não governa. E é preciso um cinismo político sem limites para sugerir que a carência governativa é necessariamente má. A oposição, que é cínica, sugere. A oposição pede ao Governo que se deixe de mariquices e atente aos "reais problemas do país". Sucede que, enquanto teve rédea solta para atentar aos "reais problemas do país", o Governo do eng. Sócrates conseguiu afundar o dito a um ponto que levou o Tribunal de Contas a atirar a toalha ao chão e inúmeros cidadãos a imitarem a toalha.

Ou seja, sempre que pôde o Governo estimulou, quando não inventou do zero, muitos dos problemas que o país realmente tem. Se continuasse a poder, as ânsias de "investimento" público e deslumbres afins mostram que não se ficará por aqui. De momento, o conflito institucional parece constituir o único obstáculo ao caos absoluto. "Ingovernável" ou apenas "ingovernado", é preferível que o país se fique pelo caos relativo, e a rezar para que as eleições antecipadas, que tarde ou cedo hão-de chegar, não nos tirem dele. Pior é impossível? O optimismo é péssimo conselheiro
"

Alberto Gonçalves

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