domingo, dezembro 13, 2009

A nomeação de Barnier

"É a primeira vez em 50 anos que este cargo é atribuído à França. Os ingleses são aqui os grandes perdedores”. Nicolas Sarkozy referindo-se à nomeação de Michel Barnier para o cargo de Comissário Europeu para o Mercado Interno da Comissão Europeia.

Sarkozy tem toda a razão. Os ingleses são os grandes perdedores. Mas, o mesmo se aplica aos franceses e a todos os demais países da União Europeia.

A nomeação de Barnier para o cargo mais importante da Comissão depois da presidência é, de facto, infeliz, mas por outros motivos que não os insinuados pelo presidente francês. Não tem nada que ver com a City de Londres. E também nada que ver com Barnier pessoalmente. O problema com o novo cargo de Barnier reside no próprio cargo.

Barnier terá em mãos duas das tarefas políticas mais difíceis da UE durante a próxima década: reforçar o mercado único e a regulação financeira, duas áreas em dificuldades. O mercado único tem vindo a debater-se com algumas dificuldades, sobretudo depois de os Estados-membros terem usurpado o poder de Bruxelas em plena crise financeira. Estamos em vias de esgotar o nosso espaço de manobra económico, resta-nos esperar que a UE se revigore a longo prazo.

No que toca à regulação financeira, a tarefa é igualmente importante. A política deve ser definida não em termos dos interesses da City de Londres mas sim tentando tornar a economia da UE mais resistente à instabilidade financeira. A política está actualmente em todo o lado. A UE tem vindo a apontar as suas armas contra os fundos de investimento mas mostra-se aparentemente indiferente aos muitos problemas com instrumentos financeiros socialmente indesejáveis como é o caso dos ‘swaps' de incumprimento de crédito nus e crus - onde os compradores procuram segurança em títulos que não detêm, a sua maioria por motivos meramente especulativos. Oenfraquecimento das propostas feitas na semana passada com vista à criação de um supervisor forte ao nível da UE está aí para nos lembrar que os interesses nacionais continuam a ser a força dominante na União.

É esta a dupla confusão que Barnier vai herdar - um mercado único em dificuldades e uma agenda de reformas financeiras inconsistente. Mas, se quisermos resolver estas questões de forma séria, então devemos separar a finança do mercado único e fundi-la com a economia - bem como um cargo cuja natureza mudou.

Nos anos 80 e 90 defendeu-se a junção dos cargos no mercado interno e na finança. A ideia consistia, no fundo, em conceber um mercado único de serviços financeiros. Mas se há coisa que a crise nos ensinou é que a macroeconomia e a finança não devem ser administradas por burocracias separadas. Foi este reconhecimento que levou à criação do Conselho Europeu de Risco Sistémico, um novo sistema de supervisão que se pauta pela macroprudência
."

Wolfgang Munchau

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