O número horrível do desemprego
"É uma notícia esperada há muito tempo mas que ninguém queria receber. Pois bem, chegou ontem vinda de Bruxelas.
A taxa de desemprego passou a fasquia dos 10% e atingiu um novo número recorde. É o mais alto desde 1983. O valor calculado pelo Eurostat veio relembrar, com particular dramatismo, que o desemprego é o problemas mais grave que Portugal tem de enfrentar. É uma questão que vai para além da economia, dadas as fortes implicações sociais, políticas e até na segurança interna do país.
Sejamos claros. O desemprego é o maior drama para muitas famílias portuguesas, não só porque amputa as suas fontes de rendimento como traz ainda um sentimento de inutilidade perante os outros que penaliza as pessoas que não conseguem arranjar emprego. Além disto, é um dos principais factores de promoção da pobreza. Portanto, não vale a pena desvalorizar os números do Eurostat com o argumento de que tem uma fórmula de cálculo diferente da usada pelo INE. O organismo estatístico da União Europeia usa uma metodologia em que junta os dados do INE - obtidos trimestralmente através de inquéritos - e os do Instituto de Emprego e Formação Profissional que tem os desempregados inscritos mensalmente.
Seja qual for a fonte de informação, a realidade é a mesma: o desemprego está a subir e é já bastante superior à média europeia (9,3%). Historicamente, Portugal tinha das taxas de desemprego mais baixas da Europa, agora tem a quarta mais elevada da zona euro. Este dado dá outra dimensão do desemprego: é estrutural. Ou seja, não resulta apenas da crise. A pior hecatombe económica desde a segunda guerra mundial veio apenas agravar um problema económico que Portugal já tinha.
Todos estes dados são importantes para delinear a estratégia de combate ao problema. Porque o pior é a resignação. Primeiro que tudo, as medidas do Governo parecem insuficientes. É verdade que há um desfasamento entre os dados do desemprego e o crescimento económico. Mas os últimos dados que tiram Portugal da recessão, bem como as previsões das instituições europeias, mostram um nível de crescimento insuficiente para promover a criação de emprego que absorva os desempregados.
A primeira prioridade deve assim passar pelo crescimento económico para que haja criação de emprego de forma sustentável. E aqui as empresas e os sindicatos também têm um papel importante. Deve haver um pacto para o emprego que envolva todos os parceiros sociais e que deve ter dois níveis. Primeiro, a curto prazo, passar a crise protegendo os mais desfavorecidos. Segundo, a médio prazo, reconverter a economia para acabar com o desemprego estrutural. É verdade que a agricultura, o calçado e o vestuário não podem ser o futuro do país mas então é preciso encontrar outras actividades, que criem emprego, sejam exportadoras e com forte valor acrescentado.
Num outro nível, é preciso repensar o modelo social europeu. A Europa tem dos desempregos mais elevados porque dá garantias a mais em detrimento da promoção do trabalho. Para haver emprego de qualidade é primeiro necessário que haja emprego. Esta é uma discussão que ainda não está concluída e que Portugal devia promover. O combate ao desemprego passa por tudo isto. É preciso começar já."
Bruno Proença
A taxa de desemprego passou a fasquia dos 10% e atingiu um novo número recorde. É o mais alto desde 1983. O valor calculado pelo Eurostat veio relembrar, com particular dramatismo, que o desemprego é o problemas mais grave que Portugal tem de enfrentar. É uma questão que vai para além da economia, dadas as fortes implicações sociais, políticas e até na segurança interna do país.
Sejamos claros. O desemprego é o maior drama para muitas famílias portuguesas, não só porque amputa as suas fontes de rendimento como traz ainda um sentimento de inutilidade perante os outros que penaliza as pessoas que não conseguem arranjar emprego. Além disto, é um dos principais factores de promoção da pobreza. Portanto, não vale a pena desvalorizar os números do Eurostat com o argumento de que tem uma fórmula de cálculo diferente da usada pelo INE. O organismo estatístico da União Europeia usa uma metodologia em que junta os dados do INE - obtidos trimestralmente através de inquéritos - e os do Instituto de Emprego e Formação Profissional que tem os desempregados inscritos mensalmente.
Seja qual for a fonte de informação, a realidade é a mesma: o desemprego está a subir e é já bastante superior à média europeia (9,3%). Historicamente, Portugal tinha das taxas de desemprego mais baixas da Europa, agora tem a quarta mais elevada da zona euro. Este dado dá outra dimensão do desemprego: é estrutural. Ou seja, não resulta apenas da crise. A pior hecatombe económica desde a segunda guerra mundial veio apenas agravar um problema económico que Portugal já tinha.
Todos estes dados são importantes para delinear a estratégia de combate ao problema. Porque o pior é a resignação. Primeiro que tudo, as medidas do Governo parecem insuficientes. É verdade que há um desfasamento entre os dados do desemprego e o crescimento económico. Mas os últimos dados que tiram Portugal da recessão, bem como as previsões das instituições europeias, mostram um nível de crescimento insuficiente para promover a criação de emprego que absorva os desempregados.
A primeira prioridade deve assim passar pelo crescimento económico para que haja criação de emprego de forma sustentável. E aqui as empresas e os sindicatos também têm um papel importante. Deve haver um pacto para o emprego que envolva todos os parceiros sociais e que deve ter dois níveis. Primeiro, a curto prazo, passar a crise protegendo os mais desfavorecidos. Segundo, a médio prazo, reconverter a economia para acabar com o desemprego estrutural. É verdade que a agricultura, o calçado e o vestuário não podem ser o futuro do país mas então é preciso encontrar outras actividades, que criem emprego, sejam exportadoras e com forte valor acrescentado.
Num outro nível, é preciso repensar o modelo social europeu. A Europa tem dos desempregos mais elevados porque dá garantias a mais em detrimento da promoção do trabalho. Para haver emprego de qualidade é primeiro necessário que haja emprego. Esta é uma discussão que ainda não está concluída e que Portugal devia promover. O combate ao desemprego passa por tudo isto. É preciso começar já."
Bruno Proença
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