quinta-feira, dezembro 31, 2009

A produtividade à mesa

"Enfim o regresso a uma existência civilizada. Nos últimos tempos, foi-me quase impossível marcar um jantar num restaurante com amigos. O motivo? Os restaurantes estavam ocupados com jantares de empresa e os amigos recrutados para os mesmos.

Não sei até que ponto este tipo de eventos, invariavelmente realizados na época pré-natalícia, é ritual indígena ou importado, género Dia dos Namorados ou Dia das Bruxas (às vezes as senhoras em questão permitem acumular). Sei que o jantar de empresa é uma ideia luminosa, e não só para a restauração: que outro pretexto facilitaria o convívio de colegas que evitam o ano inteiro encontrar-se fora das obrigações estritamente relacionadas com o trabalho? Nesse sentido, é o prolongamento profissional da consoada tradicional, a qual reúne os familiares que, decerto por boas razões, evitam encontrar-se nas restantes 364 noites.

Mal por mal, a consoada dura um singelo serão: os jantares de empresa estendem-se por uma quantidade indefinida deles. Por estranho que pareça, cada cidadão consegue (ou é forçado a) ir a muito mais do que um mero jantar de empresa. Assim de repente, calculo uns cinco repastos por cabeça. Uma das causas do desemprego deve passar pela quantidade de gente que desempenha cargos simultâneos em múltiplas firmas. Outra causa do desemprego talvez passe pela relação entre os jantares de empresas e o número de falências: é interessante notar que a proliferação dos primeiros varia em função do aumento das segundas. Ou vice-versa: não é claro se as empresas fecham porque preferem jantar a produzir ou se antecipam o fecho e jantam a título de última vontade.

Claríssimo é que esta voga representa um transtorno para o cidadão alheio ao mundo empresarial, que todos os meses de Dezembro vê a vida social reduzida a escombros. Para já, acabou. Mas para o ano há mais (jantares) e menos (empresas).
"

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os jantares de empresa, como foi dito e muito bem, surgem como mais uma obrigação laboral, uma espécie de filtro para seleccionar os colaboradores dóceis dos rebeldes e assim preparar as promoções do ano seguinte. Sucede que os rebeldes são-no por boas razões e regra geral são os mais competentes da empresa, mas como não se sujeitam ao usual "buttkissing", são afastados da cadeia produtiva com as usuais consequências.

Claro está que numa empresa saudável os jantares de colegas surgem expontâneamente sem que seja necessário o chefe marcá-los. O que parece que ainda não perceberam é que obrigar colaboradores a jantar à força não trás benefícios para ninguém.

quinta-feira, dezembro 31, 2009  

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