segunda-feira, janeiro 11, 2010

Ei-lo, liberto da asfixia

"Paulo Portas esbraceja, clama a autoria da ideia, sonha pela fotografia que lhe afaga o ego e o alimenta politicamente; não tarda, apresentará duas, três medidas de algibeira para ser ele, e só ele, a muleta de 2010.

Eis o primeiro sinal de que o PSD está a fazer bem, finalmente liberto da asfixia em que se deixou enredar e, quem sabe?, lhe custou uma derrota eleitoral.

É sempre bom procurar-se justiça na avaliação dos factos e dos protagonistas - e é nesse pressuposto que cabe elogiar o papel de José Pedro Aguiar Branco. Não é (foi) fácil descolar de uma liderança derrotada e sorver autonomia - surgindo como carta distintiva, sendo uma face da mesma carta.

Nos últimos tempos, nomeadamente na ressaca do desastre eleitoral, o PSD foi (é) visto como uma coisa em perda para um ‘tsunami' imparável (Paulo Portas é um daqueles amigos que em circunstância alguma deve ser amaciado). O perigo existia e existe - não sendo de desvalorizar a capacidade mobilizadora de um exercício de clareza que rende com naturalidade.

Na ressaca ficou igual, como jamais alguém pensou construir a mudança (e daí a imagem de "um lento suicídio"). Ficou Manuela Ferreira Leite e José Pedro Aguiar Branco. Nada do que aconteceu faz de quem está melhor ou pior: é evidente que Ferreira Leite está de saída, como é indesmentível que Aguiar Branco evidencia limitações, com fracturas expostas no campo da argumentação retórica.

Mas perceba-se o essencial: Ferreira Leite ficou para deixar uma marca e vai consegui-lo; Aguiar Branco afirma-se como solução alternativa à custa de um trabalho contínuo e uma persistência inabalável. E isso - para governo de mentes privilegiadas - mais cedo do que tarde pode revelar-se além de uma simples elucubração. E o que se verifica - Aguiar Branco vivo apesar de Ferreira Leite - é algo que só com um querer ilimitado se consegue alcançar.

Chegamos assim ao grande negócio. Sendo certo que há dois que não contam - PC e Bloco vivem em processo de esclerose atípica - a conversa é feita à direita. E já parece improvável que - apesar da afinidade com Portas persistir - o PS possa ignorar as ideias de médio, longo prazo propostas pelo PSD.

É assim que se faz política, sobretudo quando se vive a agrura da oposição. É assim que se constrói uma alternativa credível e, a seu tempo, irrecusável. Falta um acto: a libertação do rasto castrador. É esse o maior obstáculo com que se defronta o próximo líder, levado a entrosar no jogo de Cavaco. Que, no fundo, quer aquilo que sempre quis: deixem-no trabalhar. Para ele, obviamente.

Na contagem dos estragos, deve-se saudar o acordo do Governo com os professores. Mas fica a perplexidade: para quê tanto tempo perdido? E uma certeza inquietante: não é este o problema do ensino em Portugal. Longe disso
. "

Raul Vaz

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