O manicómio em 2010
"Um economista escreve um artigo no jornal i a pedir a Manuel Alegre que se candidate a presidente da República, sob o argumento de que o cargo deve ser ocupado por quem tenha "memória anti-fascista". O advogado de um responsável por roubos, sequestros e a paralisia de um farmacêutico exige a absolvição do criminoso a pretexto das "fracas condições sociais em que cresceu". Um Movimento dos Trabalhadores Desempregados quer dispensa do dever de procurar emprego (mas não do direito ao subsídio). Uma organização feminista reclama a introdução no Código Penal do "femicídio", conceito que distingue o homicídio de senhoras no contexto das relações íntimas. A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas continua a reivindicar privilégios e subsídios. Por sua vez, ociosos de outro género reivindicam a possibilidade de adopção por casais gay. A Protecção Civil desdobra-se na produção de alertas coloridos enquanto as cidades se desfazem a cada chuva e a cada vento. Os "media" lamentam o falhanço da Cimeira de Copenhaga no combate a um fenómeno cuja existência permanece duvidosa. Lisboa e Porto discutem institucionalmente uma corrida de aviões. Quando o défice público atinge os valores de três linhas do TGV e um aeroporto de Alcochete somados, o Governo reage mediante o avanço de três linhas do TGV e um aeroporto de Alcochete. A Comissão para o Centenário da República pagou a um desenhador 180 mil euros (sem concurso público) a troco de um site e uns envelopes. Existe uma Comissão para comemorar o Centenário da República.
À entrada da segunda década do século, eis um entre inúmeros retratos possíveis do país que temos e somos. A impressão imediata é a de um manicómio. A impressão definitiva também. Lá fora não é muito melhor? Talvez não. Mas as comparações com estranhos não redimem este equilibradíssimo caldo de ignorância, trapaça e pura demência. Às vezes apetece rir, embora fique sempre a dúvida sobre se rimos dos malucos ou com os malucos, e nenhuma das hipóteses abona em favor de quem ri."
Alberto Gonçalves
À entrada da segunda década do século, eis um entre inúmeros retratos possíveis do país que temos e somos. A impressão imediata é a de um manicómio. A impressão definitiva também. Lá fora não é muito melhor? Talvez não. Mas as comparações com estranhos não redimem este equilibradíssimo caldo de ignorância, trapaça e pura demência. Às vezes apetece rir, embora fique sempre a dúvida sobre se rimos dos malucos ou com os malucos, e nenhuma das hipóteses abona em favor de quem ri."
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