O desfecho da crise
"O ideal é que a zona euro resolva os seus próprios problemas. Para isso é preciso uma estratégia mais arrojada do que o roteiro traçado pelo pacto de estabilidade e crescimento.
O problema está em gizar um "desfecho" credível para a crise. O pacto contém procedimentos detalhados sobre o que pode acontecer quando um governo não age em conformidade com os desejos dos outros estados membros, apesar de a sanção mais grave ser uma multa. Mas de que vale multar um país insolvente? O desfecho continua a ser o incumprimento e o contágio.
A Europa não se tem empenhado activamente na criação de políticas anti-crise robustas. A França e a Alemanha defendem que a opinião pública grega pode interpretar mal um sinal de salvamento, o que deitaria por terra todos os esforços de consolidação. Creio que tudo depende do sinal que os políticos quiserem dar e das condições do salvamento. É natural que sejam pouco atractivas para evitar o risco de ‘moral hazard' e que pressuponham a perda parcial da soberania. Nenhum país no seu perfeito juízo aceitaria esse dinheiro, mas ao aceitá-lo deve ter presente que as consequências desse acto são extremamente desagradáveis.
Esse sistema não está necessariamente imune a situações de incumprimento, ainda que pontuais, mas ajudaria a evitar o contágio automático. Os países que não aceitarem as condições poderão incorrer em incumprimento, mas nesse caso os outros países poderão evitar a propagação respeitando os procedimentos acordados. Não havendo qualquer enquadramento estratégico, a ameaça de incumprimento propaga-se automaticamente do primeiro ao segundo país mais vulnerável. Há menos de duas semanas, as bolsas em Madrid e Lisboa foram mais penalizadas do que em Atenas.
Quem sabe se não haverá mais países europeus vulneráveis. A Áustria ainda pode vir a sucumbir à crise bancária nacional; a Bélgica tem uma dívida muito superior à de Espanha ou Portugal e um sector privado especialmente enfraquecido pela crise global. É muito provável que os investidores sérios se sintam tentados a apostar na ruptura da zona euro. Ora, a zona euro tem de enviar urgentemente um sinal que mostre que está disponível para delinear uma política anti-crise robusta e credível, e empenhada em resolver os seus problemas. Essa política tem de ser eficaz, respeitar as leis actuais da União - que não prevêem operações de salvamento - e incluir desincentivos no que respeita a potenciais beneficiários. Acima de tudo, é preciso pôr fim à ambiguidade criada pela própria UE."
Wolfgang Münchau
O problema está em gizar um "desfecho" credível para a crise. O pacto contém procedimentos detalhados sobre o que pode acontecer quando um governo não age em conformidade com os desejos dos outros estados membros, apesar de a sanção mais grave ser uma multa. Mas de que vale multar um país insolvente? O desfecho continua a ser o incumprimento e o contágio.
A Europa não se tem empenhado activamente na criação de políticas anti-crise robustas. A França e a Alemanha defendem que a opinião pública grega pode interpretar mal um sinal de salvamento, o que deitaria por terra todos os esforços de consolidação. Creio que tudo depende do sinal que os políticos quiserem dar e das condições do salvamento. É natural que sejam pouco atractivas para evitar o risco de ‘moral hazard' e que pressuponham a perda parcial da soberania. Nenhum país no seu perfeito juízo aceitaria esse dinheiro, mas ao aceitá-lo deve ter presente que as consequências desse acto são extremamente desagradáveis.
Esse sistema não está necessariamente imune a situações de incumprimento, ainda que pontuais, mas ajudaria a evitar o contágio automático. Os países que não aceitarem as condições poderão incorrer em incumprimento, mas nesse caso os outros países poderão evitar a propagação respeitando os procedimentos acordados. Não havendo qualquer enquadramento estratégico, a ameaça de incumprimento propaga-se automaticamente do primeiro ao segundo país mais vulnerável. Há menos de duas semanas, as bolsas em Madrid e Lisboa foram mais penalizadas do que em Atenas.
Quem sabe se não haverá mais países europeus vulneráveis. A Áustria ainda pode vir a sucumbir à crise bancária nacional; a Bélgica tem uma dívida muito superior à de Espanha ou Portugal e um sector privado especialmente enfraquecido pela crise global. É muito provável que os investidores sérios se sintam tentados a apostar na ruptura da zona euro. Ora, a zona euro tem de enviar urgentemente um sinal que mostre que está disponível para delinear uma política anti-crise robusta e credível, e empenhada em resolver os seus problemas. Essa política tem de ser eficaz, respeitar as leis actuais da União - que não prevêem operações de salvamento - e incluir desincentivos no que respeita a potenciais beneficiários. Acima de tudo, é preciso pôr fim à ambiguidade criada pela própria UE."
Wolfgang Münchau
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