Há uns mais iguais do que outros
"(Onde se reflecte sobre a irrespondível visão/análise de Medina Carreira mas se inflecte num ponto: são todos maus, realmente, mas há os péssimos, principalmente porque se situam no centro do problema e no nevoeiro da incerteza e porque eles é que estão lá, ao leme(?)).
"Aumentos de impostos? Era só o que faltava. Numa altura em que o País enfrenta uma crise destas, acha que proporia aumentar os impostos?".
"Acabar com as deduções fiscais conduziria a um aumento fiscal brutal para a classe média".
"Não aumentamos os impostos".
Estas três frases têm em comum o facto de todas elas terem sido pronunciadas em curto lapso de tempo, respectivamente em Setembro antes das eleições e em Março actual, após a apresentação do Plano de Estabilidade e Crescimento, pelo mesmo personagem, o primeiro-ministro José Sócrates - a quem um locutor há dias, em "lapsus linguae" possivelmente freudiano, chamou "José Trocas-te" (sic).
Não julguem os leitores que este intróito contém qualquer intuito de proselitismo da virtude cívica e muito menos da chamada ética republicana que, como se sabe, anda mais rota que as sandálias de um peregrino (1). Todos sabemos que, nos tempos que correm, na luta política vale tudo menos tirar olhos (2), mas aqui as responsabilidades deterioram-se ou, pelo menos, tornam-se mais sensíveis por dizerem respeito ao mandato político, ao contrato entre eleitores e eleitos.
Nas democracias mediáticas e de satisfação instantânea em que vivemos, não é difícil congeminar um dia em que a alternativa se ponha entre a suspensão da democracia por seis meses ou o espectáculo de mentira e palhaços na oferta de ilusões permanentes. Pela parte que me toca, e julgo que à dos meus compatriotas, não agrada nem o "casse-tête" nem o vigésimo premiado e julgo que merecemos mais e melhor do que um travesti chavista ou uma junta post-moderna , com óculos de aros leves.
Nestas coisas da verdade e da mentira em política gosto de me lembrar das eleições, já pré-históricas, entre George Bush e Bill Clinton, em 1992. Bush, um patrício, vinha da maior popularidade de sempre de qualquer presidente, auditada em sondagem, mas perdeu. As razões estudadas são várias mas aqui vou destacar uma que desagradou profundamente aos republicanos de direita e poderá, nessa quantidade, ter mudado para o outro lado o sentido do voto. GB prometera não aumentar os impostos e até usara uma ênfase facial ao vivo, com os lábios ("read my lips"). Este foi um permanente tema de campanha, provavelmente fatal (mesmo para além do "it's the economy, stupid"). Bush não mentira, teve sim de enfrentar o que se chama, em Direito, no domínio das declarações, "alteração imprevisível de circunstâncias" (3).
No caso de Sócrates, o homem até começou logo por abrir as hostilidades faltando, por completo, às promessas eleitorais de 2005 e, talvez por isso, iniciou um governo promissoramente reformista, numa aparência de governação para as necessidades objectivas do país. Mas o problema é que o cidadão referido é completamente errático, diz o que for conveniente na altura e, como apontou Rebelo de Sousa, "mente tanto que até se esquece do que diz". Não dá sequer para se fazer um jogo à Von Neumann em que haja que descortinar o sentido das palavras de quem mente sempre. O problema aqui é de tempo, lugar e aleatoriedade. É muito para se poder perceber.
Como afirmei acima e agora repito, o meu ponto de vista não tem como núcleo o amor à verdade, antes, pragmaticamente saber o que o governo vai fazer e para onde quer levar o país. É tudo uma questão de, nós, sofridas famílias e empresas, sabermos com o que podemos contar para dar destino às nossas vidas. Temos que programar e gerir eventos e expectativas, para nós, filhos, dependentes… sem estar à espera dos humores socráticos ou de este ter ou não acabado de ler o "Keynes for Dummies", da famosa colecção, ou de querer conservar o poder a todo o custo.
A época está para sacrifícios, mas com rumos sérios e transcendentais para o país, não de TGVs para Mértola ou computadores para casais homosexuais.
É por estas e por outras que, apesar da choldra geral, há uns que são mais iguais que outros.
(1) Elegante variação do velho lugar comum "chapéu de um pobre".
(2) Não consegui proeza verbal, desta vez: Isto está mesmo de tirar olhos.
(3) Aqui no sistema, primeiro mente-se, a seguir justifica-se com a alteração de circunstâncias e, finalmente, mente-se de novo sobre a dita alteração. O chamado deboche. "
Fernando Braga de Matos
"Aumentos de impostos? Era só o que faltava. Numa altura em que o País enfrenta uma crise destas, acha que proporia aumentar os impostos?".
"Acabar com as deduções fiscais conduziria a um aumento fiscal brutal para a classe média".
"Não aumentamos os impostos".
Estas três frases têm em comum o facto de todas elas terem sido pronunciadas em curto lapso de tempo, respectivamente em Setembro antes das eleições e em Março actual, após a apresentação do Plano de Estabilidade e Crescimento, pelo mesmo personagem, o primeiro-ministro José Sócrates - a quem um locutor há dias, em "lapsus linguae" possivelmente freudiano, chamou "José Trocas-te" (sic).
Não julguem os leitores que este intróito contém qualquer intuito de proselitismo da virtude cívica e muito menos da chamada ética republicana que, como se sabe, anda mais rota que as sandálias de um peregrino (1). Todos sabemos que, nos tempos que correm, na luta política vale tudo menos tirar olhos (2), mas aqui as responsabilidades deterioram-se ou, pelo menos, tornam-se mais sensíveis por dizerem respeito ao mandato político, ao contrato entre eleitores e eleitos.
Nas democracias mediáticas e de satisfação instantânea em que vivemos, não é difícil congeminar um dia em que a alternativa se ponha entre a suspensão da democracia por seis meses ou o espectáculo de mentira e palhaços na oferta de ilusões permanentes. Pela parte que me toca, e julgo que à dos meus compatriotas, não agrada nem o "casse-tête" nem o vigésimo premiado e julgo que merecemos mais e melhor do que um travesti chavista ou uma junta post-moderna , com óculos de aros leves.
Nestas coisas da verdade e da mentira em política gosto de me lembrar das eleições, já pré-históricas, entre George Bush e Bill Clinton, em 1992. Bush, um patrício, vinha da maior popularidade de sempre de qualquer presidente, auditada em sondagem, mas perdeu. As razões estudadas são várias mas aqui vou destacar uma que desagradou profundamente aos republicanos de direita e poderá, nessa quantidade, ter mudado para o outro lado o sentido do voto. GB prometera não aumentar os impostos e até usara uma ênfase facial ao vivo, com os lábios ("read my lips"). Este foi um permanente tema de campanha, provavelmente fatal (mesmo para além do "it's the economy, stupid"). Bush não mentira, teve sim de enfrentar o que se chama, em Direito, no domínio das declarações, "alteração imprevisível de circunstâncias" (3).
No caso de Sócrates, o homem até começou logo por abrir as hostilidades faltando, por completo, às promessas eleitorais de 2005 e, talvez por isso, iniciou um governo promissoramente reformista, numa aparência de governação para as necessidades objectivas do país. Mas o problema é que o cidadão referido é completamente errático, diz o que for conveniente na altura e, como apontou Rebelo de Sousa, "mente tanto que até se esquece do que diz". Não dá sequer para se fazer um jogo à Von Neumann em que haja que descortinar o sentido das palavras de quem mente sempre. O problema aqui é de tempo, lugar e aleatoriedade. É muito para se poder perceber.
Como afirmei acima e agora repito, o meu ponto de vista não tem como núcleo o amor à verdade, antes, pragmaticamente saber o que o governo vai fazer e para onde quer levar o país. É tudo uma questão de, nós, sofridas famílias e empresas, sabermos com o que podemos contar para dar destino às nossas vidas. Temos que programar e gerir eventos e expectativas, para nós, filhos, dependentes… sem estar à espera dos humores socráticos ou de este ter ou não acabado de ler o "Keynes for Dummies", da famosa colecção, ou de querer conservar o poder a todo o custo.
A época está para sacrifícios, mas com rumos sérios e transcendentais para o país, não de TGVs para Mértola ou computadores para casais homosexuais.
É por estas e por outras que, apesar da choldra geral, há uns que são mais iguais que outros.
(1) Elegante variação do velho lugar comum "chapéu de um pobre".
(2) Não consegui proeza verbal, desta vez: Isto está mesmo de tirar olhos.
(3) Aqui no sistema, primeiro mente-se, a seguir justifica-se com a alteração de circunstâncias e, finalmente, mente-se de novo sobre a dita alteração. O chamado deboche. "
Fernando Braga de Matos
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