quarta-feira, março 17, 2010

O 'apartheid' que não indigna ninguém

"Kathryn Bigelow ganhou o Óscar de melhor realizador por Estado de Guerra. O filme? Não vi. E muitos dos que viram não ajudam: talvez por a fita tender para o "reaccionário" (dizem-me), preferem dedicar-se a conjecturas sobre o facto de a sra. Bigelow ser a primeira mulher a ganhar o referido troféu. Pelos vistos, isto constitui uma proeza qualquer e merece, por si só, festejos à parte.

Eu aconselho calma. Claro que tudo indica a feminilidade da senhora, mas é preciso notar que ela é caucasiana e, ao que li algures, heterossexual. No que respeita a Hollywood, ainda há ali imenso atraso. O autêntico progresso civilizacional só será obtido no dia em que o prémio maior for para uma aborígene nascida homem, de credo tauista e, preferencialmente, anã.

A desvantagem da luta pelos direitos civis é ser um processo em aberto, em que há sempre metas por alcançar. A vantagem também, já que isso entretém o tipo de gente que se entretém a catalogar gente sob toda a sorte de critérios: género, raça, credo, etc. Sem uma nova "causa" em perspectiva, como ocupariam o tempo os activistas contemporâneos, desses que em lugar de arriscarem a prisão arriscam assinar blogues e manifestos onde escrevem os artigos "o" e "a" com um "@"?

A principal característica dos actuais esforços em prol das "minorias" (estatísticas ou sentimentais) prende-se com os seus objectivos. Tradicionalmente, exigia-se igualdade; hoje, reivindica-se, sublinha-se e celebra-se a diferença. Eis porque se garante que a mulher possui uma "sensibilidade especial", se organizam estudos específicos de História Negra (?) e se montam feiras de emprego exclusivamente destinadas a homossexuais, de que a MILK, que decorreu no passado fim-de-semana em Munique, é exemplo. No Ocidente inteiro, está em curso um apartheid de múltiplas frentes, e o facto de os seus impulsionadores se julgarem herdeiros dos que antes combatiam a verdadeira discriminação é um caso tão intrigante quanto psiquiátrico
."

Alberto Gonçalves

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

...e no entanto, nas sociedades ocidentais, ditas modernas,as discriminações vão-se aprofundando, enquanto o culto do bizarro vai prevalecendo.

António Barreto

quarta-feira, março 17, 2010  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!