terça-feira, março 16, 2010

O PSD e o poder

"Portugal é um País que foge dos factos. E o PSD, nos últimos anos, tem fugido do País. Agora que os factos ofuscam a ficção em que temos vivido, o PSD tem de deixar de se esquivar aos portugueses. O Congresso que decorreu no fim-de-semana não caiu como sopa no mel. Serviu apenas para os candidatos a líder, e a primeiro-ministro, afinarem a sua capacidade oratória e de mobilização. As contas só se farão dia 26. Mas funcionou, sobretudo, para todos escutarem Marcelo Rebelo de Sousa a delimitar as margens onde deve correr o rio do PSD. Apoio a Cavaco, apostar numa maioria absoluta e criar um sonho plausível em que os portugueses acreditem, é o denominador comum que poderá colocar novamente o PSD na órbita do poder. Marcelo, com o mais inteligente discurso de liderança que surgiu no Congresso, colocou-se de fora. Porque sabe que não basta oferecer ao eleitorado um ramalhete de políticas possíveis. Os cidadãos querem saber o que motiva o PSD a regressar ao poder. Mas Marcelo intui outra coisa, e daí o seu apelo a políticos que tenham mostrado que têm vida para lá do partido: hoje chega ao poder quem faz parte de uma teia de interesses vários que necessitam da gestão do aparelho de Estado para se continuarem a disseminar. Se o PSD for apenas a outra face da moeda de Sócrates será irrelevante. Para regressar ao poder, o PSD precisa de fazer crer aos portugueses que podem acreditar na mudança prometida. Quando uma nação remove um Governo e instala outro, segue-se um momento de emoção e não de cálculo estratégico. É só isso que o PSD tem de perceber."

Fernando Sobral

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