Os delírios renováveis
"São muitas as utilidades das energias ditas renováveis. A principal é dar pretextos ao Governo para jurar regularmente investimentos desmesurados no sector e a criação de centenas de milhares de empregos. A jura da semana, inevitavelmente integrada numa "estratégia nacional", envolve 31 mil milhões de euros e 130 mil a 140 mil novos postos de trabalho. "Novos" é maneira de dizer: "hipotéticos" seria o termo correcto, que o prazo para a realização de tamanha proeza é 2020 e, até lá, não custa atirar números para o ar. Aliás, nem sei porque é que o dr. Vieira da Silva não prometeu 100 mil milhões e 600 mil empregos, uma ambição mais adequada aos desempregados existentes e igualmente isenta de verificação.
Nisso, na facilidade com que permitem inventar dados, as energias do futuro são o oposto dos velhos hipermercados, por exemplo. Estes, ou os seus proprietários, apenas reclamam a liberalização dos horários, medida que sem implicar o assalto aos contribuintes criaria de facto alguns empregos. Paulo Azevedo, que naturalmente defende os interesses da Sonae, falou há dias em dois mil no caso do Continente. Talvez se arranjassem seis mil no total. É pouco? Um único sujeito com trabalho autêntico é preferível a cem mil em cargos fictícios, ainda por cima quando os fictícios habitam a imaginação dos poderes públicos, cuja competência na matéria é semelhante à minha nas rendas de bilros.
A diferença é que eu nunca sonhei interferir na manufactura das rendas, enquanto o Governo continua a obstar à abertura dos hipermercados aos domingos. O argumento? É difícil perceber, mas encontra-se algures na intersecção do beatismo da Igreja com o beatismo da esquerda. A primeira garante que o domingo deve ser devotado à família, a segunda evoca os direitos dos trabalhadores. Pelos vistos, o pormenor de as famílias quererem passar os domingos nas compras e de, graças à actual lei, uma data de trabalhadores não ter trabalho não conta. O que conta é o princípio, e, graças a um Estado tutelar, milhares de portugueses podem aguardar o fim deitados ao sol, como os painéis com que se constrói o futuro."
Alberto Gonçalves
Nisso, na facilidade com que permitem inventar dados, as energias do futuro são o oposto dos velhos hipermercados, por exemplo. Estes, ou os seus proprietários, apenas reclamam a liberalização dos horários, medida que sem implicar o assalto aos contribuintes criaria de facto alguns empregos. Paulo Azevedo, que naturalmente defende os interesses da Sonae, falou há dias em dois mil no caso do Continente. Talvez se arranjassem seis mil no total. É pouco? Um único sujeito com trabalho autêntico é preferível a cem mil em cargos fictícios, ainda por cima quando os fictícios habitam a imaginação dos poderes públicos, cuja competência na matéria é semelhante à minha nas rendas de bilros.
A diferença é que eu nunca sonhei interferir na manufactura das rendas, enquanto o Governo continua a obstar à abertura dos hipermercados aos domingos. O argumento? É difícil perceber, mas encontra-se algures na intersecção do beatismo da Igreja com o beatismo da esquerda. A primeira garante que o domingo deve ser devotado à família, a segunda evoca os direitos dos trabalhadores. Pelos vistos, o pormenor de as famílias quererem passar os domingos nas compras e de, graças à actual lei, uma data de trabalhadores não ter trabalho não conta. O que conta é o princípio, e, graças a um Estado tutelar, milhares de portugueses podem aguardar o fim deitados ao sol, como os painéis com que se constrói o futuro."
Alberto Gonçalves
1 Comments:
Com que então 130 mil novos postos de trabalho? Qualquer palerma sabe que, se a manta é curta, ao tapar a cabeça destapa os pés!
Todo esse anunciado investimento, faltará noutros sectores, destruindo aí o emprego. Há que demonstrar o benefício.
Já o honrado e esmifrado Zé Povinho, pode contar com as suas migalhas, tal como no grande projecto dos paineis solares em que os desgraçados instaladores apesar de certificados, asseguram a execução do projecto arriscando o coiro por um prato de lentilhas enquanto bancos e fabricantes enchem o papo!
Quanto mais não valem os 2,5 M€/ano. Ah como é justa a democracia!
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