terça-feira, junho 15, 2010

Éramos felizes e não sabíamos

"Ai, as saudades do sr. Scolari. É verdade que o homem era rude, fez de Roberto Leal a banda sonora dos treinos da selecção e instituiu o patriotismo das bandeirinhas. Mas também é verdade que a rudeza do brasileiro às vezes tinha piada, as cantilenas do sr. Leal só torturavam os jogadores e as bandeirinhas, à janela ou no punho, rotas ou imaculadas, rigorosas na heráldica ou com pagodes chineses, eram acima de tudo mudas.

Agora, temos o "professor" Queiroz, que fala com a profundidade de Manuel Alegre, divulga com o curioso patrocínio do BES uma peçonha em forma de hino e, ainda pior, aceita ou pelo menos não protesta o adereço oficioso deste Mundial, as cornetas de plástico que a Galp vende a um euro cada.

Descobri as cornetas há dias, no posto de combustível onde costumo tomar café. Ao meu lado, uma fila de clientes receosos inquiria o funcionário: "As 'vuvuzelas' esgotaram?" Note-se que não perguntaram pelas cornetas, ou por "aquelas geringonças alaranjadas que vocês mostram no anúncio": os clientes foram exactos e recorreram ao termo técnico. Depois, perante a brutal constatação de que as "vuvuzelas" tinham realmente esgotado, reuniram forças para uma segunda pergunta: "E quando chegam mais?" Não ouvi a resposta. Também não ouvi as diversas criaturas que, de então para cá, me tentaram explicar a origem e a história do fascinante artefacto, criado não sei por quem e não sei onde, para fins de não sei o quê e no ano não sei quantos.
Na impossibilidade de recuar no tempo e afogar à nascença o inventor das cornetas, apenas duas características destas me interessam.

Uma é o barulho demencial que produzem, o qual levou a FIFA a ponderar a sua proibição e, em má hora, a desistir dela. A outra é o facto de tantos portugueses ignorantes em tantas matérias se tornarem especialistas imediatos em qualquer lixo desde que o lixo esteja relacionado com o futebol. No primeiro caso, limito-me a esperar que, graças à única virtude aparente do "professor" Queiroz, a selecção não dê muitos pretextos ao uso da "vuvuzela". No segundo caso, não há esperança possível.
"

Alberto Gonçalves

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