O espantalho de Sócrates

"Criou uma casa de fantasmas e de "yes-men". Deixou de ouvir o ruído do mundo. Agora tem medo dos espantalhos que colocou em Portugal. Ao tentar impor a sua versão da realidade, Sócrates foi o culminar de anos de governação suicida do PS (e do PSD), que atiraram Portugal para este momento de pára-quedismo sem pára-quedas. Sócrates acreditou que podia imitar Houdini. Este escapava--se das prisões da Sibéria e da Scotland Yard com um sorriso, Sócrates das grades da realidade económica como uma enguia. Errou. O céu caiu-lhe em cima e a culpa não foi só da crise global. A senhora Merkel lembrou-lhe isso em voz alta e Eduardo Catroga de forma simpática e familiar. Sócrates ouviu e engoliu em seco mas já comprou um aparelho de audição que desligará assim que puder. O debate parlamentar sobre o OE já está a provar isto, como se viu no monólogo sobre os submarinos.

Este OE é como uma cicuta açucarada: é mau mas tem de se tomar. Mas nada será tratado com uma aspirina. O que vem aí não é o Halloween "pop" dos americanos. É terror a sério. Sócrates não ganhará eleições se o impuser, apesar de pensar que o conceito de pobreza é relativo. Passos Coelho só as vencerá se tiver tanta inteligência táctica como teve nas negociações do OE. É isso que aterra Sócrates: como poderá vender a sua ilusão a pessoas sem dinheiro nos bolsos? Sócrates não sabe governar sem luzes de Natal. Só que a credibilidade ganha-se com acções sérias e consequentes. E o que se teme é que o Governo ainda não tenha aprendido a lição. "

Fernando Sobral