segunda-feira, novembro 01, 2010

Uma vitória imoral

"O PSD está satisfeito com o acordo atingido no Orçamento do Estado, que considera uma "vitória para Portugal". Não é para menos: conseguiu legitimar um documento que acha, e é, catastrófico e prolongar a governação dos que acha, e são, responsáveis pela catástrofe.

Mudanças? Uns trocos na receita. Naquilo que contaria, leia-se a redução da despesa, não consta que tenha havido revoluções. Nas 14 mil entidades públicas, por exemplo, a que acresce a futura entidade para "avaliar a evolução das finanças públicas" (ideia do PSD), os "cortes" continuam restritos a umas alucinantes 50, das quais 9 não existem.

Por outro lado, os jornais juram que o Governo aceitou "reavaliar" as parcerias público-privadas, incluindo os projectos como o TGV. No papel, o gesto é louvável. Na prática, mostra o desarranjo psiquiátrico a que se chegou. É extraordinário que, numa altura em que a única alta velocidade plausível é aquela a que nos dirigimos para o abismo, o TGV, "reavaliado" ou temporariamente suspenso, ainda seja assunto de debate. O Governo é o sujeito endividado que, em vez de declarar bancarrota, pede seis meses para pensar se deve adquirir um Bentley. O PSD é o credor que lhe concede os seis meses.

E mesmo estas singularidades partem do princípio de que se podem levar a sério as garantias de gente que prospera exclusivamente à custa de patranhas. Nada impede, e tudo sugere, que, mal obtenha o aval parlamentar, o eng. Sócrates volte a detectar sinais de retoma, sintomas de crescimento e indícios de prosperidade onde, no mundo real, só há desgraças. Nada impede que daqui a três ou quatro dias regresse a defesa apaixonada do "investimento" público e do "Estado social". Nada impede que retorne a retórica da confiança e do optimismo. Nada impede que a demência prossiga imaculada.

Eis um espectáculo evitável, que o PSD não evitou. Por dramáticas que fossem as consequências de uma posição inversa, viabilizar o Orçamento é dar nova oportunidade a quem já desperdiçou imensas, mais do que as desejáveis, mais do que as possíveis. O argumento de que apenas o "sim" ao Orçamento garantiria a nossa credibilidade no exterior esvai-se no instante em que o "sim" também aprova o Executivo que reduziu a credibilidade a farrapos. O "não" talvez (talvez) permitisse um esboço de regeneração. O "sim" assegura que a regeneração não passará.

Desde ontem que multidões de peritos discutem se a intrincada estratégia do dr. Passos Coelho lhe é favorável ou se, pelo contrário, favorece o eng. Sócrates. Sem surpresas, os peritos esquecem-se que, muito abaixo de tais sumidades, subsiste uma espécie de país, um país que por enquanto antecipa a ruína e que, em breve, a experimentará de facto. Suspeito que esta particular vitória de Portugal não levará bandeirinhas às janelas
."

Alberto Gonçalves

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como se afunda um Estado em contraponto ao que fez Salazar, como se levanta um Estado.
Apenas estão preocupados com as sondagens, todos, o senhor Cavaco o do Poço, e do oásis, o Sr Passos, o eng Sócrates, e o resto dos partidos e o problema emus caros são os partidos polícos..
Este povo merece.
Critica-se o ditador Chavez, mas afinal o tipo até faz eleições, portanto aquilonão é uma ditadura, é uma democracia e com petróleo melhos, assim já pode ser.
Um casal com mais de 436 Euros de rendimento mensal já não tem direito a abono de família e o estado novo é que ra o estado dos bandidos?
Em 74 tínhamos um crescimento de 12 %, indústria a sério, naval, metalúrgica, textil e sei lá mais o quê.
Tínhamos a DGS ainda bem, não havia tanto gatuno e bandido á solta e quando sairam de caxias não vi sair nenhum incapacitado, matou mais ou PC do que a PIDE, se havia dissidentes eram abatidos a culpa ía para a GNR e para a PIDE.
Dexem-se de merdas. Salazar sabia o povo que tinha, esse sim era sério, chamar sério a Cavaco é anedota.

segunda-feira, novembro 01, 2010  
Anonymous Anónimo said...

Nós por cá todos bem...

BPN, BCP, CGD e por aí fora, pede- se aos senhores a quem se pede justiça que tenham alguma decência.

Suspeitos de afundarem finanças islandesas começam a ser detidosDois ex-directores do banco islandês Kaupthing, nacionalizado de urgência em 2008, foram presos esta quinta-feira. Mas a lista de possíveis detidos envolve mais de 125 personalidades, segundo a imprensa.
Os directores de bancos islandeses que arrastaram o país para a bancarrota em finais de 2009 foram presos por ordem das autoridades, sob a acusação de conduta bancária criminosa e cumplicidade na bancarrota da Islândia.
Os dois arriscam-se a uma pena de pelo menos oito anos de cadeia, bem como à confiscação de todos os bens a favor do Estado e ao pagamento de grandes indemnizações.
A imprensa islandesa avança que estas são as primeiras de uma longa lista de detenções de responsáveis pela ruína do país, na sequência do colapso bancário e financeiro da Islândia.
Na lista de possíveis detenções nos próximos dias e semanas estão mais de 125 personalidades da antiga elite política, bancária e financeira, com destaque para o ex-ministro da Banca, o ex-ministro das Finanças, dois antigos primeiros-ministros e o ex-governador do banco central.
A hipótese de cadeia e confiscação de bens paira também sobre uma dezena de antigos deputados, cerca de 40 gestores e administradores bancários, o antigo director da Banca, os responsáveis pela direcção-geral de Crédito e vários gestores de empresas que facilitaram a fuga de fortunas para o estrangeiro nos dias que antecederam a declaração da bancarrota.
Em Outubro de 2008, o sistema bancário islandês, cujos activos representavam o equivalente a dez vezes o Produto Interno Bruto do país, implodiu, provocando a desvalorização acentuada da moeda e uma crise económica inédita.

terça-feira, novembro 02, 2010  

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