Os valores de Abril
"Mário Soares fez ontem o discurso mais interessante do 25 de Abril (um momento notável que congregou três antigos Presidentes, para além de Cavaco).
Pelas críticas que fez à construção Europeia, pelo diagnóstico da situação portuguesa e pela "pantufada" que deu a quem diaboliza o FMI (Sócrates deve ter ficado com as orelhas a arder...).
Mas Soares excedeu-se ao dizer que o 25 de Abril cumpriu os três "D": descolonizar, democratizar e desenvolver. É que o "desenvolvimento" é o pilar mais débil do pós-25 de Abril... O exagero de Soares é representativo da distância que separa os "pais da Revolução" da "geração deserdada". Vejamos: Soares e muitos outros fizeram algo de grandioso (devolveram-nos a Democracia). Mas cometem o erro de olhar para o que se fez nos anos seguintes com excessiva bonomia.
Dizem, por exemplo, que poucos países fizeram o que nós fizemos: libertámos as ex-colónias, integrámos um milhão de retornados, reduzimos a iliteracia, melhorámos drasticamente os cuidados de Saúde (v.g. a queda da mortalidade infantil)... É verdade. Mas fizemos demasiados disparates: em 37 anos é a 3ª vez que recorremos ao FMI. Não há na OCDE, quanto mais na União Europeia, nenhum país com este track record.
Bem pode Soares, e outros, dourar a Revolução de Abril. As novas gerações (e até as antigas) começam a achar que, além de Democracia, têm direito a Riqueza. E essa é cada vez mais uma miragem. Estão a exagerar? Não: dez dos países que aderiram à União depois de nós... já nos olham pelo retrovisor. É natural este descontentamento. Se calhar Soares devia reconhecer que não temos dirigentes capazes de levar o país para um novo patamar de Desenvolvimento."
Camilo Lourenço
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